Do lado dos produtores, melhores seriam as oportunidades se houvesse maior volume e frequência nos abates. “Produzimos carne de qualidade, este não é o problema. O desafio é fornecê-la para a indústria nas escalas necessárias. Para tanto, é preciso lançar mão de outras estratégias de produção”, reconhece Anderson Pedreira, diretor da Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia (ACCOBA), sediada em Salvador (BA). Uma das táticas que poderiam ajudar neste sentido é a integração entre produtores.
Na visão dos frigoríficos, a cadeia produtiva ainda é desorganizada. Este estado nordestino sempre contou com serviços de grandes empresas, mas elas sofrem sem escalas regulares. “São necessários investimentos na ordem de R$ 5 milhões para que uma planta frigorífica de pequeno porte opere de forma regular, uma conta que só é paga com 2 a 3 mil abates/dia. É uma quantidade inexistente em qualquer estado”, explica.
Outro agravante é a brutal concorrência do abate informal, no qual muita matéria-prima é perdida para atravessadores, que ficam com a maior fatia desse mercado. Sem saber para quem fornecer, muitos acabam seduzidos por eles, acreditando em melhor remuneração. “Esses, por sua vez, aproveitam dessa fraqueza para fechar grandes cargas, com até 300 ovinos”, lembra Pedreira, informando que a indústria já remunera a R$ 14, em média, pelo quilo de carcaça.
O interesse em negociar com frigoríficos esbarra também no fato de exigirem um padrão mínimo de qualidade. Entretanto, parcela considerável dos ovinos fornecidos apresenta manejo sanitário e acabamento de carcaça inadequados. Um fator que impacta diretamente na qualidade de carcaça é a genética utilizada no plantel.
“Muitos elegem o macho mais “fortinho” do grupo para ser o reprodutor do rebanho ou acredita que um mestiço será um bom pai, abrindo mão do ganho de peso, da precocidade e da qualidade de carcaça garantida a partir de reprodutores puros e avaliados”, analisa Pedreira. Isso acontece porque boa parte do rebanho baiano está nas mãos da agricultura familiar, que tem este hábito arraigado quase que culturalmente. A ironia é que a Bahia reúne um acervo genético excelente de raças especializadas na produção de carne.
“Um dos maiores rebanhos de ovinos Dorper e White Dorper do Brasil, por exemplo, está aqui. É também um dos melhores geneticamente. Ao abrir mão dessa tecnologia, perdem-se ótimas oportunidades de fazer o melhoramento do plantel”, frisa Augusto Sérgio de Oliveira Barbosa, dono da Cabanha Lage da Cruz, em Itiúba (BA), e representante da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper) na Bahia.
Cordeiros ½ sangue Dorper ou White Dorper atingem peso de abate (35 a 50 quilos) aos 150 dias de vida. “Inclusive, são protagonistas em programas de parceria, via integração de rebanhos, que fazem um enorme sucesso aqui na Bahia. Criadores cedem a genética para a cobertura à campo e pequenos produtores melhoram a precocidade e o rendimento de seus cordeiros. Recebem também garantia de compra da produção e apoio técnico”, revela Augusto.
Os mencionados desencontros da cadeia produtiva resultam na maior importação de carne do Uruguai, Nova Zelândia e até mesmo do Rio Grande do Sul. Muitos restaurantes da Bahia também recorrem a esse comércio para atender seus clientes.
Exemplo de sucesso
Mesmo com dificuldade para programar escala, o Frigorífico Baby Bode, sediado em Feira de Santana (BA), atende grandes redes, distribuidoras e boutiques de carne pelo Brasil. Por mês, abate, em média, 2.500 animais. São 37 toneladas de cortes especiais, número que poderia crescer, todavia, deve se manter estável. O motivo é justamente a falta de cordeiros em quantidade e, principalmente, na qualidade desejada. “Chegamos a ser marca exclusiva das maiores redes atacadistas do País, mas, infelizmente, pela falta de matéria-prima, perdemos o posto em algumas. É difícil ver que, enquanto operamos com menos de 50% de nossa capacidade física, mais de 90% dos abates pelo Brasil são clandestinos”, lamenta Yuri Brasileiro Lyra, diretor comercial do Baby Bode.
O estabelecimento conta com 126 fornecedores integrados em Manoel Vitorino, Barra da Estiva, Caetanos, Mirante, Bom Jesus da Serra, Maracás e Jequié, que recebem assistência técnica, financiamentos e reprodutores puros das raças Dorper e White Dorper (ovinos) e Boer e Sawana (Caprinos) para produzir os animais destinados ao programa.
De olho no potencial da ovinocultura baiana, outro projeto interessante está nascendo às margens do Rio São Francisco, em Xique-Xique (BA). O The Royal Sheep Farm Of Xique Xique, que planeja chegar a 10 mil matrizes ovinas nos próximos anos. O foco será a alta gastronomia no Sudeste, onde o consumo de cordeiro é mais elitizado. “Um diferencial que buscamos, além da qualidade, é a padronização. De nada adianta entregar para a indústria carrés de formas e tamanhos diferentes”, explica Décio Ribeiro dos Santos, um dos parceiros do projeto.
O Nordeste possui raças decisivas à construção de um padrão de qualidade para a carne do cordeiro nacional. Este projeto já passou por Pernambuco, Ceará e Alagoas, com apoio de representações locais.
Nacional das raças Dorper e White Dorper em Salvador (BA)
Este, aliás, foi um dos motivos que levaram a 8º Exposição Nacional das Raças Dorper e White Dorper para Salvador (BA). Dessa forma, criadores antes impedidos de avançar por corredores sanitários poderão participar. O evento ocorre de 28 de novembro a 7 de dezembro, no Parque de Exposições de Salvador (BA), com o tema “Brasil sem Fronteiras”. A expectativa é reunir 1.000 ovinos só no julgamento, além daqueles ofertados em dois leilões a serem realizados.
A organização foi confiada à ACCOBA, que reúne 150 associados, entre criadores de caprinos e ovinos. A entidade é conhecida nacionalmente pelas contribuições geradas à caprinovinocultura brasileira. Uma de suas iniciativas mais conhecidas atualmente é o “Pró-Berro”, um modelo pioneiro de financiamento de reprodutores com chancela técnica da associação.
As informações são da Assessoria de Imprensa da ABCDorper, adaptadas pela Equipe FarmPoint.
Roberis Ribeiro da Silva
Salvador - Bahia - Consultoria/extensão rural
postado em 17/11/2014
Já tinha conhecimento dessa realidade e foi por isto que fechamos o Fricapri e posteriormente a Pantanal no município de Jequié na Bahia. Mesmo assim não desistir da atividade de processamento e comercialização de corte de caprinos, ovinos e agora suínos. Enfim, depois de mais de 24 anos de experiência nesse agronegócio conseguimos uma receita que viabiliza economicamente o abate de poucos animais e fizemos um projeto piloto no sul da Bahia que serviu de modelo. E agora em 2015 vamos disseminar através de micro-franquias em todo os estados nordeste.