O projeto social de ovinocaprinocultura leiteira e de corte está mudando a vida de muitas famílias de áreas de assentamentos na maioria integrantes do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Conforme o zootecnista da Ematerce de Canindé, Samuel Pimenta, assessor regional responsável pela cadeia produtiva na região, o projeto tem um grande valor social e trará resultados positivos para famílias carentes do semiárido.
"A ideia da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, no decorrer das ações, é a distribuição, a todas as famílias beneficiadas, de sementes para reservas estratégicas, entre as quais sorgo forrageiro, feijão guandu e palma forrageira, capacitação para os criadores em manejo alimentar, sanitário e reprodutivo de animais, além da gestão associativa e cooperada".
Para participar do projeto de cabras leiteiras e corte, os produtores realizaram dias de campo para produção de silagem, feno, ração, mineralização e missões técnicas. "Um fato que nos deixa animados é que, após a entrega dos animais, os criadores já estão ordenhando os animais e se beneficiando do leite caprino. O público-alvo desse projeto são as famílias que participam do Bolsa Família", acrescenta o secretário de Desenvolvimento Agrário do Estado, Nelson Martins.
Os recursos são da ordem de R$ 2,5 milhões. Na opinião do gerente local da Ematerce de Canindé, Domingos Sávio, a criação de cabras é uma das grandes potencialidades da região. A caprinocultura de corte e leite fortalece a cadeia de segurança alimentar. "Enquanto os criadores de bovinos estão com as mãos na cabeça para salvar seus animais, os criadores de caprinos encontram mais facilidades de conviver com a seca ou estiagem. Nunca ouvir dizer que um bode ou uma cabra venha a morrer de fome ou sede numa seca", diz.
O prefeito de Canindé, Celso Crisóstomo, lembra que a produção dos agricultores familiares será destinada ao programa Leite Fome Zero. As compras já somam até 5 mil litros de leite caprino por dia a um preço de R$ 1,20 o litro. "Não existe comunidade nenhuma no mundo que consiga sair da zona de pobreza, sem antes apostar na produção do campo, principalmente por meio da agricultura familiar".
Na sua visão, o leite de cabra é potencialmente tido como um produto de inclusão da agricultura familiar no mercado, notadamente no Nordeste brasileiro, onde a caprinocultura leiteira de base familiar vem se desenvolvendo em larga escala, dando mais uma alternativa de sustento aos produtores.
Celson Crisóstomo lembra ainda que a cabra foi o primeiro animal capaz de produzir alimentos domesticados pelo homem, há cerca de dez mil anos. De lá para cá, sempre acompanhou a história da humanidade, conforme se atesta em diversos relatos históricos, mitológicos e até bíblicos, que mencionam a presença dos caprinos. "A caprinocultura é uma atividade que vem se desenvolvendo muito nos últimos anos. A população mundial de caprinos é estimada em cerca de 609 milhões de cabeças".
Há registros mostrando que as cabras existem no Brasil desde 1560. Por serem animais de menor porte e mais dóceis, foram trazidos em navios no lugar das vacas para garantir o suprimento de leite das tripulações vindas de Portugal. Pequenas, resistentes e produtivas, as cabras são velhas conhecidas dos brasileiros. Apesar disso, levaram 450 anos para saltar da condição de animal de subsistência para status de espécies comercialmente rentável. Ainda que no Nordeste do País existam raças mestiças extremamente rústicas, criadas há décadas de forma solta no pasto, foi somente no fim dos anos de 1990 que o rebanho ganhou representatividade comercial. O Brasil já se posiciona como 11º maior produtor de leite de cabra do mundo, com mercado estimado em 25 milhões de litros anualmente.
Benefícios
O leite de cabra chega a ter 30% menos colesterol que o de vaca, além de possuir menor teor de açúcar. Aproximadamente 6% das crianças têm sintomas de alergia ao leite de vaca, que podem caracterizar-se por distúrbios digestivos, corrimento nasal, otites, erupções cutâneas, entre outras alergias.
As partículas de gordura do leite de cabra são de tamanho reduzido em relação ao leite de vaca. Com isso, o leite é rapidamente absorvido, em cerca de 40 minutos, enquanto o leite de vaca demora, em média, duas horas, deixando menos resíduos no intestino, evitando assim fermentação e má digestão. O leite de cabra é uma excelente fonte de cálcio e vitaminas, sendo muito utilizado na ação preventiva e curativa de osteoporose.
Zootecnista informa as vantagens do rebanho
O sucesso do projeto para criar cabras no sertão já pode ser sentido, nos comparativos feitos por Samuel Pimenta. O zootecnista afirma que se os criadores cuidarem da sanidade do rebanho, empregarem novas técnicas de manejo alimentar e reprodutivo, que possibilitem melhorias e qualidade dos animais na ampliação do plantel de maneira uniforme e saudável, todos terão sucesso.
"Com as técnicas adequadas, a redução da mortandade fica praticamente zero e aumento no número do rebanho são comuns", frisa. Para ele, uma das raças mais adaptadas para a região do semiárido é o Anglo Nubiano, uma raça mista tanto para carne como para leite, a Saaney, onde sua aptidão é leite, além de raças nativas como Canindé, Moxotó, que tem aptidão para produção de carne´´, diz.
"A exigência alimentar dessas raças não é tão grande. Possui excelente desempenho alimentar no ganho de peso e produção de leite. Elas são típicas de regiões semiáridas, onde o índice pluviométrico é baixo, na qual se adaptam bem às condições de escassez de chuvas, se alimentando de pastagens nativas da nossa Caatinga como, por exemplo, leucena, excelente proteína, a vagem da algaroba, feijão guandu, mameleiro, todas plantas predominantes da nossa região´´, explicou ele.
Para mostrar a viabilidade para se criar bodes, Samuel Pimenta faz um comparativo interessante. "Uma vaca de 500 quilos come cerca de 40 quilos de forragem, diariamente, e bebe 50 litros de água por dia, o que equivale de 10 a 12 caprinos adultos durante o dia. A cabra bebe em média 12 litros de água e se mantém com 6 quilos de alimento no mesmo período. "A cabra representa um meio de alimento de sobrevivência e uma saída econômica para muitas famílias do sertão do Ceará", lembra Samuel.
Exemplo
A vaca para primeira cria está apta a partir de 3 anos e só pare um filhote dentro da normalidade. Já a cabra está pronta para cobertura a partir dos 8 meses e é comum nascer dois filhotes. "A cada dois anos, aproximadamente, a cabra assegura três crias, a vaca só voltaria a parir depois de um ano. O intervalo entre os partos de uma vaca está na média de 18 meses. A cabra nesse mesmo processo seriam 8 meses", ensina o zootecnista.
Segundo o profissional da área, com as técnicas aplicadas corretamente, nascem, em média, dois cabritos por ano.
O manejo sanitário implica também o uso correto de imunização, além de aplicar vermifugação de quatro em quatro meses. "Em Tauá, quem cria cabra já aprendeu inclusive a fazer pequenas cirurgias, corte do umbigo e castração, visando prevenir doenças e infecções nos animais´, lembra Samuel Pimenta.
Para o secretário de Agricultura e Recursos Hídricos de Canindé, Valdemir Amâncio, a grande finalidade do órgão é conscientizar o agricultor sobre as vantagens da criação de caprinos, animal rústico que se adapta com facilidade ao clima do sertão do Estado do Ceará.
Em relação aos bovinos, animais de maior porte e que comem por 12 caprinos, Amâncio salienta que exige mais capital por parte dos criadores para aquisição das matrizes e bezerros, além de mais tempo para a comercialização.
Quanto aos caprinos, o mercado é favorável e a oferta atual sequer atende à demanda regional. "Com sete meses, os caprinos chegam a uma média de 35 quilos e até um ano de idade é o tempo ideal para comercialização, porque a carne está macia", lembra o secretário.
As informações são do Diário do Nordeste, adaptadas pela Equipe FarmPoint.
Ícaro Jacob Lopes da Silva
Pentecoste - Ceará - Consultoria/extensão rural
postado em 19/02/2013
Não é novidade para ninguem que a redenção do homem sertanejo passa pela produção de pequenos ruminantes ( as nossas velhas e boas "miuças"), no entato é valido o esforço dos orgaõs governamentais em promover o desmarginalização que essa atividade sofreu por decadas.
Mas é bom lembrar que sem a organização da cadeia produtiva,capacitação dos produtores e principalmente investir na susseção das propriedades, todo esse trabalho de divulgação não se convertera em plenos resultados que a midia governamental tanto almeja.
Tão importante quanto dar auxilios sociais é mostra aos as novas gerações do campo a grande oportunidade de se ter uma vida diguina em pleno semiarido o ano inteiro.