Com cortes expressivos na produção e nos estoques finais de milho nos EUA e no mundo e ajustes igualmente radicais e surpreendentes na oferta de soja, o departamento aumentou as preocupações. As cotações internacionais de ambos os grãos, os mais produzidos no Brasil, subiram ao maior patamar em 30 meses e as preocupações com uma agroinflação só fizeram aumentar. Há meses o risco está no radar da FAO (braço da ONU para agricultura e alimentação) e já motiva protestos em diversos países.
Baseado em uma cesta formada por açúcar, carnes, trigo, arroz, milho, óleos e lácteos, o índice da FAO para os preços globais dos alimentos encerrou dezembro em níveis recordes, confirmando a elevação das importações mundiais de alimentos para mais de US$ 1 trilhão, patamar alcançado apenas em 2008. Naquele ano, outra explosão de preços derivada de fundamentos "altistas" e especulação levou commodities, como milho e soja, a máximas históricas ainda não superadas e também gerou manifestações ao redor do mundo e justificou a retomada de medidas protecionistas no comércio.
Para muitos especialistas, o que ocorreu em 2008 no mercado de grãos foi o início de uma nova era. Médias de preços de 30 anos, para as quais as cotações sempre voltavam após fortes altas ou baixas, foram simplesmente implodidas. Em tempos de turbulências nos principais mercados financeiros do planeta, os alimentos voltaram a ganhar importância como ativo e grandes fundos de investimentos que até 2008 passavam ao largo das commodities agrícolas, não as deixaram mais.
Em parte, a continuidade dessa forte aposta financeira nos mercados de matérias-primas para alimentos evitou uma queda brusca dos preços mesmo após o aprofundamento da crise global, no fim de 2008. Mas o fato é que o consumo mundial de grãos segue firme, puxado pelo crescimento dos países emergentes, e problemas na oferta em exportadores importantes desde meados de 2010 tornou o quadro de abastecimento bem mais apertado do que se esperava. Some-se a isso a demanda de grãos para a produção de biocombustíveis, o resultado é euforia para quem tem alimentos para vender e pânico para quem é obrigado a comprar.
A matéria é de Fernando Lopes, publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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