Estudo do Rabobank corrobora a tese. De oito importantes cadeias produtivas analisadas pelo banco de origem holandesa com forte atuação na área rural, a da soja é a que aparece com mais riscos. Para cana (açúcar e álcool), café, algodão, milho e carnes (bovina, suína e de frango), o horizonte é mais promissor, pelo menos a partir da análise dos fundamentos de oferta e demanda de cada segmento.
O trabalho do banco pondera que nem só desses fundamentos vivem os mercados, mas pelo lado das decisões de investimentos derivadas de condições macroeconômicas o cenário é positivo. O Rabobank lembra que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta "leve retomada" do crescimento econômico mundial em 2010, puxada pelos países em desenvolvimento, e que no Brasil, um dos motores emergentes, o terreno é firme. A ressalva é o câmbio, já que a expectativa é que o real continue forte, afetando as exportações.
Com fundamentos atraentes e dólar à sombra do que foi, Andy Duff, gerente do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank no país, diz que o fluxo de investimentos em commodities não arrefecerá este ano. "É um movimento que está apenas começando". Duff acredita que a aposta nas commodities vem se fortalecendo estruturalmente tendo em vista o longo prazo promissor sustentado pelos emergentes.
No caso da soja, que puxa a renda bruta das lavouras do país e as exportações nacionais do agronegócio, o temor decorre da grande possibilidade de queda de preços internacionais dada a gorda oferta global projetada. A combinação entre cotações mais baixas e dólar fraco deverá reduzir as margens de lucro dos agricultores em 2010, apesar da redução dos custos dos insumos - fator que vale para todas as cadeias -, mas o estudo do Rabobank ressalva que o "mercado doméstico deve gerar boas oportunidades para tradings, esmagadoras e empresas de biodiesel em 2010", como em 2009.
Luciano van den Broek, analista da equipe de Duff, vê outro ponto positivo: "Muitos produtores já travaram preços futuros e câmbio em elevado patamar". Conforme ele, é preciso esperar os efeitos climáticos sobre a safra argentina 2009/10, que está em desenvolvimento, e seus reflexos nos preços internacionais Projeções indicam recuperação após a quebra de 2008/09, mas o El Niño e suas chuvas preocupam. A China, maior importadora do grão, está estocada e deverá comprar menos.
Para o milho, o Rabobank não vê mudanças significativas para as apertadas margens dos produtores nesta safra de verão, já que a oferta doméstica segue confortável. Mas, com algum enxugamento derivado de exportações e da recuperação do segmento de carnes, o cenário para a safrinha de inverno pode melhorar, segundo Van der Broek. No exterior, o quadro de oferta e demanda é menos confortável que o da soja, cujos estoques globais tendem a aumentar. "Ainda assim os preços domésticos deverão continuar baixos no mercado interno no primeiro trimestre ou até mais", afirma.
Para o café, apesar das perspectivas de queda de preços no exterior e no país, já que a oferta deverá crescer mais do que a demanda, a redução dos custos deverá preservar as margens. Mas não há espaço para ganhos significativos, conforme o estudo do Rabobank. Diferente é a expectativa para o algodão, cujos excedentes tendem a cair.
No segmento sucroalcooleiros, Andy Duff considera que o déficit global de açúcar derivado da escassez indiana seguirá a sustentar os preços internacionais e a demanda pelo produto brasileiro pelo menos por mais quatro meses, quando começa a entrar a safra de cana do Centro-Sul do Brasil. E para o etanol as boas vendas de veículos flexfuel continua a oferecer sustentação aos preços. É preciso esperar, porém, volume e qualidade da nova safra, que vem sendo afetada pelas chuvas.
A matéria é de Fernando Lopes, publicada no jornal Valor Econômico, adaptada e resumida pela Equipe AgriPoint.
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