Segundo o professor Hilton Silveira Pinto, diretor associado do Cepagri e coordenador do estudo, o projeto “Mitigando emissões de gases na agricultura: bases para o monitoramento do Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono)” atua com base em ações como o plantio direto sobre a palha; a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF); a substituição de fertilizantes nitrogenados pela fixação biológica do nitrogênio em culturas como de soja, cana-de-açúcar, milho e feijão; e o reflorestamento. “Entre essas técnicas, a integração lavoura-pecuária-floresta é a que se mostra eficiente tanto com ganho de produtividade para o produtor quanto para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Para cada árvore plantada, a metade do CO2 produzido na atmosfera é absorvida pela planta no processo de fotossíntese”, explica o professor.
Já o plantio direto, diz o professor, faz com que o solo absorva 500 quilos de carbono por hectare ao ano. E com as bactérias nitrogenadas, ao invés da utilização do adubo com nitrogênio, é possível eliminar a emissão de óxido nitroso, que é 300 vezes pior que o carbono na atmosfera. “Por outro lado, temos hoje 50 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil: não é um pasto cultivado, o gado é simplesmente levado para outro lugar quando acaba a grama natural. Recuperando essas áreas teremos o sequestro de meio quilo de carbono por quilo de grama alta”.
Conforme o diretor do Cepagri, o Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, com 205 milhões de animais que ocupam 20% da área destinada à atividade. Tecnologias já conhecidas de fertilização, plantio de espécies adequadas e manejo de solo e de pastoreio podem promover a elevação da produtividade vegetal e animal. “Atualmente, a relação é de 0,4 cabeças por hectare. Com a recuperação, o propósito é mais que dobrar esse número e chegar a pelo menos uma cabeça por hectare, utilizando a mesma área e sem interferir no meio ambiente".
Na primeira fase do projeto, as equipes percorreram as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, entre novembro de 2011 e dezembro de 2012. Coletaram 4 mil amostras de 232 áreas de pastagens mapeadas por imagens de satélite, a fim de quantificar seus estoques de carbono no solo e calcular a capacidade de sequestro do gás em pastagens produtivas. Uma das estimativas é de que o manejo adequado e a adubação em 15 milhões de hectares degradados corresponderão à redução de emissões de 83 a 104 milhões de tCO2eq até 2020 – um ganho adicional viria de 4 milhões de hectares da ILPF, com a recomposição de áreas de preservação permanente e implantação de agricultura orgânica e florestas comerciais.
Segundo Paulo Araripe, engenheiro agrônomo e diretor da Araripe Consultoria Agropecuária, a recuperação de 19 milhões de hectares de pastagens degradadas é possível, sim, técnica e economicamente falando. “Porém, penso que os pecuaristas brasileiros levarão muitos anos para concretizar esta meta. Acredito que necessitará um período maior que 10 anos. Devemos lembrar que, para que o saldo seja positivo temos que, além de recuperar esta área, manter as demais no atual estado em que estão, ou seja, evitar mais degradação. Estou me referindo a uma área que representa mais de 10% da área total de pastagens da atualidade; é muita coisa”, afirma.
Para Araripe, o governo se comprometeu com o mundo, mas esqueceu de perguntar ao pecuarista se ele está por dentro do problema e se ele sabe o que tem que ser feito para solucioná-lo. Muitos pecuaristas acreditam que em sua atividade não há problema relativo àemissão de gases de efeito estufa. Recuperar 19 milhões de hectares significa reduzir, na melhor das hipóteses, de um terço a metade da área hoje degradada ou em processo avançado de degradação. “Fazer a recuperação da área degradada é fácil, a grande barreira é criar a necessidade no pecuarista, que é o agente da modificação, e mostrar que isso seria benéfico para ele e que pode executar uma pecuária diferente com resultados econômicos melhores, evitando nova degradação”, avalia.
Conforme o engenheiro agrônomo, não há campanhas governamentais fortes e maciças de conscientização do pecuarista para esta questão. Linhas de crédito específicas para o assunto existem e são muito atraentes, porém elas ainda são de desconhecimento dos pecuaristas, que têm, em geral, medo de se envolver com instituições financeiras. A questão passa ainda por deficiências de estrutura do país no que diz respeito à presença de estradas para levar os insumos necessários à recuperação e escoar a produção maior de pecuária advinda desta operação.
Portanto, para Araripe, a execução da meta depende de vários fatores, como o entendimento por parte do pecuarista da questão da degradação e quais os benefícios da recuperação, colocação em prática de campanhas governamentais que incentivem o investimento em recuperação de pastagens e evitem mais degradação e a urgente reestruturação do setor público de assistência técnica que será o veículo da transformação. “É preciso política pública para tudo isso, mas uma política executiva, que saia de fato do papel e atinja a ponta, ou seja, o pecuarista”.
O pesquisador do Cepagri diz que um grande problema para a aceitação das medidas de mitigação pelos produtores é o custo da recuperação da pastagem. “Já propusemos ao governo um financiamento inicial de R$ 8 bilhões para essa finalidade, mas houve pouca procura”, afirma. Segundo ele, os grandes produtores se interessam mais em comprar gado, já que possuem áreas imensas. Por isso, o direcionamento do programa será para os pequenos produtores, que hoje fornecem entre 60% e 70% da alimentação básica do brasileiro, e o crédito de carbono seria uma ótima fonte de renda alternativa. “A ideia é introduzir novas tecnologias – como a integração lavoura-pecuária - em quase 5 milhões de unidades de agricultura familiar, com o objetivo de dobrar a produtividade e diminuir a emissão de gases. Com isso, não teremos problemas com alimentos básicos no horizonte de 30 ou 40 anos".
De acordo com o Silveira Pinto, este projeto é contínuo e segue as metas do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Após determinada a emissão de gases de efeito estufa pela agricultura regionalmente, a meta é levar esse controle ao nível das propriedades. “Queremos chegar à fazenda para observar a quantidade de tratores, caminhões, combustível consumido e também de adubos, num controle local que chamamos de nível três. Há uma finalidade principal: o agricultor que se dedicar à produção com baixa emissão, usando novas tecnologias, poderá vir a ter acesso ao crédito de carbono, cujo valor é bastante razoável.
A reportagem é do Rural Centro, adaptada pela Equipe AgriPoint.
NETTO FERNANDES
Vargem Grande do Sul - São Paulo - FORMADOR DE MATRIZ LEITEIRA
postado em 30/04/2013
Prezado professor Hilton Silveira Pinto, DD. Diretor associado do Cepagri e coordenador do estudo, o projeto "Mitigando emissões de gases na agricultura: bases para o monitoramento do Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono)" e Prezado Sr. Paulo Araripe, engenheiro agrônomo e diretor da Araripe Consultoria Agropecuária.
Suas análises estão absolutamente corretas realisticamente falando. Apenas como pequena contribuição, gostaria de transcrever pequeno trecho da introdução do livro do ilustre Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado, " PASTOREIO RACIONAL VOISIN", Ed. Cinco Continentes, 2004: " A ciência e a tecnologia convencionais, que tem sido a conduta da agronomia nos últimos 150 anos, levaram os recursos naturais à dilapidação, com as conseqüências exaustivamente reveladas, analisadas e discutidas por inúmeros autores, praticamente em todos os países do mundo: erosão, êxodo rural e marginalidade urbana, concentração de renda, pobreza e crises social, ambiental e energética."....."Quando se propõe uma conduta protetora do ambiente, capaz de recuperar o solo e de levar a resultados financeiros positivos, reais e permanentes ao produtor, mas que demanda um certo tempo para surgirem os resultados, essa conduta encontra dificuldade em se generalizar, porque contra ela insurgem os ideólogos da agronomia convencional, apoiados pelos fabricantes e seus vendedores dos chamados "insumos modernos". Esta é uma das razões por que o Pastoreio Racional Voisin, apesar de ser a tecnologia de manejo dos pastos mais moderna, mais eficiente e mais lucrativa, não ter se generalizado com a rapidez que seria desejável, porque há que respeitar e esperar os tempos". ..."Todavia, comparando a produção vegetal convencional com o PRV, a situação é diferente. O PRV, além de gerar resultados financeiros competitivos, enriquece a parcela do capital natural solo, produz impacto ambiental mínimo, com uma alta traxa de sequestro de C, e mínimo, ou nenhum impacto, sobre a biodiversidade, maximiza a captação e transformação da energia solar, cujo custo e contaminação são nulos".
Esta citação, eu a faço com desassombro, pois há seis anos venho introduzindo em minha pequena fazenda os conceitos ensinados por VOISIN, cujos encontram no Prof. Dr. Pinheiro Machado a expressão máxima de ressonância, a nível nacional e internacional. Os resultados que venho obtendo com a utilização do sistema permitem-me, hoje, manter alta média anual de UA/ha, sem a utilização de qualquer insumo de síntese química, sejam fertilizantes ou defensivos.
Tecnologia e recursos existem. Pessoas, como os autores acima tem o dignificante dever de fazer chegar ao principal elo da cadeia as informações necessárias para a tomada de decisão do micro, pequeno e médio produtores, que seremos os mais beneficiados pela adoção de práticas sustentáveis na agropecuária limpa e lucrativa.
Atenciosamente.
Netto Fernandes
Fazenda Recanto da Prainha
netofernandes@uol.com.br
Vargem Grande do Sul SP