O protesto convocado pela Sociedade Rural da Argentina (SRA) tem o apoio das outras três principais associações representantes dos produtores nacionais: Federação Agrária (FAA), Confederações Rurais (CRA) e Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro). Em meio ao locaute, a SRA recebeu uma intimação do governo para desocupar o edifício no prazo de 30 dias, segundo confirmou ao Estado o presidente da instituição, Luis Miguel Etchevehere. "É uma medida de confisco", afirmou.
Ele destacou que os agricultores e pecuaristas argentinos estão sob permanentes represálias desde que a mobilização rural derrotou um projeto de lei do Executivo, em 2008, que tentou fixar um mecanismo de alíquotas móveis para as exportações do setor. O embate naquela época somou pontos para a derrota governista nas eleições parlamentares de 2009. Novas eleições para o Congresso serão realizadas em 2013, ocasião em que os kirchneristas pretendem obter ampla maioria com vistas a sugerir uma reforma constitucional que habilitaria Cristina a candidatar-se a um terceiro mandato.
Irregularidades. A Casa Rosada argumenta que a expropriação do edifício foi motivada por uma investigação judicial que detectou irregularidades na operação realizada em 1991 pelo então presidente Carlos Menem (que governou entre 1989 e 1999), pela qual a SRA deve parte do dinheiro acertado. O Executivo afirma que a SRA pagou um "preço vil", de US$ 30 milhões, pelo terreno de 12 hectares, no coração do bairro Palermo, e deve impostos no valor de 150 milhões de pesos (US$ 30 milhões).
"Não devemos nada. O preço foi estabelecido com base em três cotações distintas e tivemos de assumir o contrato de conservação e restauração dos edifícios históricos, além de construir um moderno centro de convenções", disse Etchevehere.
O líder ruralista informou que o processo que investiga a operação ainda não foi concluído e o governo "não pode tomar uma medida assim, se não há uma sentença". Também é alvo do processo Domingo Cavallo, ex-ministro de Economia de Menem que acusou o governo de divulgar "mentiras" para fundamentar o decreto que ele considerou como "ilegítimo". Em entrevista à imprensa local, Cavallo disse que a medida do Executivo tem um "caráter autoritário e corrupto".
O locaute de ontem não deve afetar o consumidor, mas Etchevehere não descartou a possibilidade de os protestos serem ampliados para outros segmentos. Ele reiterou pedido de audiência ao ministro de Agricultura, Norberto Yauhar, mas não recebeu resposta. O líder fez uma advertência: "Se continuamos sem resposta e com o diálogo fechado, não há outra solução que não seja a de ampliar os protestos."
Divisas. Em 2008, os locautes e piquetes dos agricultores e pecuaristas argentinos se espalharam por todo o país e provocaram um desabastecimento generalizado durante 19 dias. Etchevehere não falou de novos locautes com desabastecimento, nem de piquetes como medidas de força, mas indicou que o setor vai reagir onde afeta mais o governo: na exportação. Ele disse que aconselhou o produtor a ser prudente em 2013 e dosar bem as vendas de sua colheita porque o ano será "duríssimo". Sem exportações de soja, o país praticamente não recebe divisas e o mercado de câmbio pressiona o valor da moeda nacional.
Etchevehere confirmou que a instituição apelou à Justiça para anular o decreto. A contribuição La Rural é controlada pela SRA com 50% das ações. Os outros 50% são divididos em partes iguais entre Fénix Entertainment Group e IRSA. Em entrevista ao jornal Página 12, o ministro Yauhar acusou os produtores de "misturar interesses políticos contra a firme decisão do Estado de aplicar uma revisão a uma transação que foi absolutamente prejudicial para o patrimônio da pátria".
O embate entre o governo e o campo poderia piorar. "Creio que muitos produtores agropecuários vão querer se entrincheirar na La Rural", alertou o líder da Província de Entre Ríos, Alfredo de Angeli, que se tornou popular durante a crise de 2008.
Além de expropriação do edifício, o governo tirou das mãos da FAA a emissão de um documento que facilita a comercialização da produção agrícola. A manobra causa perda de cerca de 2,5 milhões de pesos mensais (cerca de US$ 500 mil) para a instituição.
As informações são do Esatdão, adaptadas pela Equipe AgriPoint.
Eduardo Basílio
Uberlândia - Minas Gerais - Indústria de insumos para a produção
postado em 28/12/2012
Belo exemplo de mobilização da classe produtora rural argentina. Sabem da forca que tem e fazem uso dela quando se faz necessário, contra governantes irresponsáveis e populistas. Todos os governos do mundo sabem da forca desse setor e temem por suas mobilizações. Quisera tivéssemos aqui também, essa capacidade de mobilização da classe produtora rural. Muitas coisas poderiam estar melhores para todos.