Mas ele observa que prever corretamente o futuro é apenas uma das qualidades de um gestor de patrimônio: é preciso também saber o momento de agir, ou seja, o "timing", e ter um bom instinto de sobrevivência - que inclui reconhecer quando se está errado antes de o mercado provar isso de forma desastrosa. Foi assim que ele reviu as previsões negativas para este ano.
Durante o Carnaval, enquanto a maioria dos brasileiros se divertia, ele passava o dia lendo relatórios e acompanhando agências de notícias para concluir que os cenários de queda forte nas commodities e na bolsa brasileira, de crise do euro e da alta do dólar no Brasil não acontecerão agora. "Por isso, resolvi reverter as estratégias de proteção que havia colocado no Verde, que incluiam vender ações de empresas de commodities e ficar comprado em dólar", disse ao Valor. Junto com a estratégia mais conservadora, foram embora também os óculos, levados por uma onda mais forte durante um fim de tarde na praia.
No Brasil, a única coisa que preocupa Stuhlberger - e para a qual ele diz já estar protegido - é a inflação. Para o gestor, o país vive um aumento de consumo muito grande "e não temos produção para atender tudo isso". "A inflação vai ser pressionada, a importação deve aumentar, os juros vão subir, e isso vai prejudicar algumas indústrias locais", diz. Mesmo assim, ele vê que "temos muito espaço para ganho nas boas empresas voltadas para o mercado interno e em commodities."
Stuhlberger diz que há muito tempo já sabia que o euro ia passar por dificuldades por conta das economias mais fracas da União Europeia, apelidadas de Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha ). "Não sabia que a Grécia estava maquiando os números, mas já sabia que esses Piigs dariam problema." Tanto que, em um fundo global do CSHG, ele apostou em "credit default swaps" (CDS) contra Portugal, Grécia e Espanha, bem antes dos comentários do fim do ano passado. Esse papel é um instrumento financeiro que permite ao comprador proteger-se do calote de um emissor. E Stuhlberger ganhou muito dinheiro com eles. "Paguei € 20 por um CDS de Portugal que hoje vale €200." A especulação foi feita, porém, com uma parcela pequena do fundo.
O motivo da compra reforça a teoria das previsões de Stuhlberger, de observar os pequenos detalhes da economia. Ele foi a Portugal há alguns anos estudar a abertura de uma asset e não gostou do que viu. "Achei que não era viável o país manter aquela economia com uma moeda tão valorizada", diz. Assim, em lugar de abrir a empresa, ele comprou os papéis apostando nos problemas futuros do país.
Para ele, o Brasil vai continuar navegando bem na onda do mercado chinês. "Eu estava também muito pessimista com a economia americana e europeia, mas acho que não vai ser agora que os problemas vão se complicar", diz. Stuhlberger admite que perdeu dinheiro em fevereiro com a aposta de alta do dólar no Brasil. "Mas agora estou de novo sem hedge (proteção) cambial e com 30% da carteira do Verde em ações de boas empresas de consumo locais e nas principais do mercado brasileiro, incluindo as de commodities."
O gestor continua achando que a perspectiva de longo prazo para commodities é negativa. "Mas isso ainda não vai ser agora, nem para o petróleo nem para outras commodities." Assim, a questão é quanto esses preços podem subir antes de cair.
A China, observa, continua com um consumo enorme, reflexo do investimento imenso em infraestrutura. "Imagine que o consumo de minério de ferro per capta na China é 30 vezes o do Brasil", diz. "E, ao mesmo tempo, o consumo de papel é mínimo", afirma, mostrando as diferenças entre o crescimento brasileiro e o chinês. Aqui a atividade é puxada pelo consumo de bens duráveis. Lá, pelo investimento em infraestrutura.
Stuhlberger diz que não vê problemas para o Brasil no médio prazo. "O cenário político não preocupa, as commodities continuam indo bem e a dívida líquida segue baixa", diz. Não há sequer espaço para uma grande especulação eleitoral nos mercados, apesar da eleição presidencial, observa. "Não haverá grande mudança, seja quem for que ganhar", avalia.
A matéria é de Angelo Pavini, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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