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Superoferta deve pressionar preços dos grãos

postado em 21/08/2009

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É "muito elevado" o risco de o setor agrícola brasileiro enfrentar uma nova e severa crise na safra 2009/2010. A projeção foi apresentada ontem pelo engenheiro agrônomo André Pessôa, diretor da consultoria Agroconsult, durante palestra na 3ª Bienal dos Negócios da Agricultura, em Cuiabá (MT).

De acordo com ele, o pessimismo resulta da previsão de volumosas safras de soja e milho de Brasil, EUA e Argentina e, ao mesmo tempo, dos efeitos da crise mundial sobre a demanda e de uma mudança de estratégia da China, que ampliou seus estoques e fortaleceu seu poder de barganha.

No caso do milho, o analista americano Darin Newson, também presente ao evento, estimou a possibilidade de o preço à vista do bushel ficar abaixo do piso de US$ 2,30 registrado em 2006. Os EUA, segundo Newson, devem colher a segunda maior safra de milho da história. "Não é uma boa notícia para os produtores", afirmou.

Para a soja, as previsões para a próxima safra americana são de uma colheita superior a 85 milhões de toneladas. Na Argentina, a área plantada deverá crescer 3,9 milhões de hectares e a produção saltar de 32 milhões de toneladas para até 55 milhões de toneladas na safra 2009/2010. E o Brasil estima colher 13% a mais: 64 milhões de toneladas.

"A soja preocupa muito por esse excesso de oferta que certamente teremos no mercado internacional e pelos níveis de margem que serão obtidos pelos produtores. Quem não conseguiu antecipar a venda vai correr um risco muito elevado", disse André Pessôa. A queda nos preços, segundo ele, deverá causar maior impacto nas regiões onde o custo de produção é mais elevado, caso do Centro-Oeste brasileiro.

De acordo com o consultor, os produtores poderão ter de trabalhar com margens "extremamente apertadas" e, no caso de MT, com prejuízo. O motivo é o que ele chamou de "crise crônica de infraestrutura", que faz subir os custos de produção.

"Nos EUA, o bushel a US$ 8 não significará uma crise de renda, pois a margem continuará ainda muito boa. Na Argentina, não fossem as retenções [impostos sobre as exportações de soja, trigo, milho e girassol] tão elevadas, esses preços também seriam muito bons. No Brasil, simplesmente não vai dar", afirmou.

Nos últimos anos, segundo o consultor, a agricultura brasileira vem se mantendo à custa "da desgraça alheia". Ele citou casos recentes como a quebra da última safra na Argentina e a elevação do dólar no início da crise financeira mundial.

"Isso significa que, para nós, qualquer preço que não seja excepcional será insuficiente. Então não há sustentabilidade em um negócio que dependa sempre de algo excepcional. Quando está muito bom, eu sobrevivo. Quando não está muito bom, eu morro", disse.

Rui Prado, presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso), disse que as circunstâncias obrigarão o produtor a acompanhar as oscilações do mercado e comercializar lotes menores para aproveitar margens positivas. "Mercado é algo que está além da nossa eficiência da porteira para dentro", disse.

A matéria é de Rodrigo Vargas, publicada na Folha de S. Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.

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