No Uruguai, o ponto forte do setor ovino é seu bom comportamento produtivo em tempos de extrema seca como agora. De fato, reportam-se índices de señalada (cordeiros desmamados) e bom desempenho produtivo na tosquia, com uma produtividade e qualidade da lã destacada em termos gerais.
Porém, essa realidade contrasta com os preços dos produtos, especialmente da lã que, acompanhando a tendência internacional, baixou entre 30% e 50% suas cotações com relação ao mesmo período do ano anterior. As maiores baixas ocorreram no setor de lãs finas, associadas a mercados de alto valor, como Europa, onde a recessão já está instalada. Ainda que os negócios deste tipo de lã sejam pequenos, as referências australianas (iguais às usadas no acordo Merino Fino) marcam reduções anuais de 40% a 50% entre 18,5 e 22 micra, respectivamente. Por outro lado, as lãs médias tipo Corriedale, destinadas principalmente ao mercado interno da China, baixaram em menor magnitude (30%).
De qualquer forma, a tendência de médio prazo continua refletindo a maior valorização das lãs finas sobre as lãs médias, associadas a uma maior demanda no setor de vestimentas. Na realidade, esta maior baixa nas lãs finas ocorre após seus preços terem subido mais do que os das lãs médias, confirmando a maior resposta aos sinais do mercado que têm esse tipo de fibra. Em plena safra, o ritmo de operações é reduzido e os volumes comercializados são muito menores do que no mesmo período dos anos anteriores.
Muitos produtores decidem não vender e esperar que se reacomode o mercado. Os preços ficam nos níveis mais baixos, comparáveis aos presentes no outono de 2006.
O negócio de cordeiro é o que tem melhor desempenho relativo nesta situação de crise, ainda que o mercado de carne ovina não esteja alheio à crise mundial. Como ocorre todos os anos, os preços chegaram a seus níveis máximos no início da primavera, coincidindo com o pico de oferta e a necessidade da indústria de cumprir a cota com a União Européia (UE).
Satisfeita esta demanda, os preços têm caído, acentuados pelo efeito da crise com referências mais baixas nos novos negócios e dificuldade nas entradas, especialmente nas categorias adultas. De todas as formas, os preços do cordeiro estiveram nos níveis mais altos da historia durante todo o ano e, apesar das baixas que ocorreram nas últimas semanas, ainda estavam 10% acima dos preços de 2007.
As perspectivas são de uma nova redução no rebanho ovino do Uruguai estimada para este ano, o que confirma o menor interesse do setor frente a outras opções produtivas. Embora não haja dados oficiais, o Secretariado Uruguayo de la Lana (SUL) estima um forte decréscimo do número de animais que chegariam a 9,5 milhões de cabeças, 800 mil a menos que no ciclo anterior (-8%).
Ainda que não seja possível saber com que situação de preços se manejará a nova realidade produtiva nos mercados local e internacional, atualmente as respostas têm sido diferentes segundo o produto em questão, mostrando uma melhor posição relativa da carne frente à lã.
Além disso, enquanto a lã "toma" todos os sinais do mercado internacional, a carne ovina uruguaia está restrita, já que o acesso a mercados de alto valor para a carne com e sem osso continua sendo o principal limitante do setor. Um melhor acesso a mercados aumentaria substancialmente as possibilidades de êxito para a carne ovina e para o setor ovino como um todo, à medida que poria as bases para o desenvolvimento de uma cadeia agroindustrial.
Este seria o caminho seguido também pela Austrália que, nos últimos tempos, tem restringido os sistemas exclusivamente laneiros aos ambientes mais pobres (400 milímetros médios por ano), o número de ovelhas tosquiadas caiu em 25% nos últimos 10 anos, enquanto o abate de cordeiros aumentou em 33% no mesmo período.
À medida que os ambientes produtivos permitem, a carne ganha um papel mais importante nos sistemas de produção. Apesar de ter diminuído uma micra da produção de lã, a valorização da fibra nos últimos 10 anos tem sido menor (35%) do que o aumento no preço da carne ovina (65%), obviamente com mercados habilitados e um rol preponderante dos Estados Unidos como destino principal de sua produção de cordeiros.
A reportagem é do El País Digital, traduzida e adaptada pela equipe FarmPoint.
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