A exploração de caprinos para a produção de leite é bastante antiga (RIBEIRO & RIBEIRO, 2001), mas tem crescido nos últimos tempos porque o leite caprino, além de ser considerado um produto de alto valor biológico, os animais que o produzem são capazes de se adaptar a condições criatórias variáveis, proporcionando a famílias de baixa renda, uma melhoria do nível nutricional da dieta (RIBEIRO & RIBEIRO 2001).
Segundo BOMFIM (2006) a associação entre nutrição, atividade física, estresse e doenças têm ocasionado alterações habituais nos humanos nos últimos anos. E estas observações, associadas à crescente idade média da população tem impulsionado pesquisas relacionando alimentos e saúde.
Nos dias de hoje, a busca por alimentos saudáveis têm gerado uma prospecção a uma nova classe de alimentos, os chamados alimentos funcionais. Alimento funcional, é aquele que além de nutrir, exerce efeitos benéficos no organismo (BOMFIM 2006).
Os produtos lácteos têm sido tradicionalmente reconhecidos como uma importante fonte funcional para nutrição humana e suas propriedades estão relacionadas com os seus componentes, especialmente gordura e proteína (BOMFIM 2006).
Segundo FISBERG (1999) o leite caprino possui elevado valor nutricional e qualidade dietética. É um alimento que disponibiliza elementos necessários à nutrição humana, como açúcares, proteínas, lipídeos, vitaminas e sais minerais.
As proteínas do leite são importantes fontes de aminoácidos para a alimentação humana, constituindo cerca de 20 a 30% do consumo global. Apresentam ainda uma importância funcional na forma de imunoglobulinas (que promovem imunidade ao organismo), lactoferrina (atuando nas defesas primárias antibacteriana, antiviral e antiparasitária), lisozimas (que reduz o crescimento de bactérias patogênicas) e lactoperoxidase (na qual cria condições apropriadas para diminuição e ou eliminação das bactérias patogênicas, e promove a conservação do leite por duas horas), BOMFIM (2006).
Segundo QUEIROGA et al., (2004), cerca de 80% das proteínas estão dispostas na forma de caseínas, que constitui a fração micelar, compostas pelas a-s1, a-s2, b e k caseínas; e 20% na forma de proteína do soro, que constitui a fração solúvel, na qual é composta pelas b-lactoalbumina, a-lactoalbumina, imunoglobulinas e outras enzimas.
O leite caprino tem sido recomendado para pacientes com alergia às b-lactoalbuminas, na qual possui um peso molecular de 36.000 daltons, o que a torna resistente à hidrólise luminal (digestão por enzimas), LOTHE et al., 1982; BUSSINCO & BELLANTI, 1993; PARK, 1994, citados por BOMFIM (2006).
A lactose é o principal carboidrato do leite, sendo encontrada em concentrações que variam de 10 a 20%. Vale ressaltar que, no leite caprino o percentual de lactose é inferior ao do leite de vaca, cerca de 3,7% (SANTOS et al., 2008) e 4,8% (GONZÁLEZ et al., 2002) respectivamente.
A fração lipídica do leite caprino é um dos mais importantes nutrientes. É uma fonte de ácidos graxos essenciais, constituindo cerca de 50 a 60% da energia do leite. O leite caprino apresenta alta digestibilidade, devido à maior proporção de glóbulos de gordura de menor diâmetro. Os glóbulos de gordura do leite caprino apresentam um diâmetro de 1,5 mμ, enquanto que os glóbulos de gordura do leite de vaca apresenta um diâmetro de 3,0mμ CHANDAN et al.,(1992); ATTAIE & RICHTER, (2000), citados por QUEIROGA et al., (2004).
Isso explica a causa de sua maior digestibilidade, uma vez que as lípases vão atuar nos glóbulos de gordura com uma maior rapidez devido à sua maior área de exposição. A membrana nos glóbulos de gordura de leite caprino é muito frágil, resultando em uma maior vulnerabilidade a atuação da lipólise.
O rompimento da membrana dos glóbulos de gordura ocasiona a ativação de enzimas presentes no leite, favorecendo o processo de digestão e a liberação de ácidos graxos (CHILLIARD et al., (1984); MORAND-FEHR et al., (2000), citados por QUEIROGA et al.,(2004).
Segundo CHILLIARD et al., (2003), os ácidos graxos do leite caprino são ingredientes funcionais que atuam na prevenção da síndrome da má absorção, auxiliam na diminuição dos níveis plasmáticos de colesterol e de doenças cardiovasculares, além de proporcionar uma maior digestibilidade.
Dentre os ácidos graxos funcionais do leite caprino, uma atenção especial deve ser dada ao ácido linoléico conjugado-CLA. Trata-se de um ácido que possui propriedades anti-cancerígenas, combatendo o câncer de mama, de colo retal, de próstata e de estômago. Também possui propriedades anti-aterogênicas e anti-diabéticas e fortalecer o sistema imunológico (CHILLIARD et al., 2003).
Em relação às vitaminas, o leite caprino apresenta um teor de vitamina A superior ao do leite de vaca, devido à ausência de β-caroteno. Em relação às vitaminas E, B9, B12 e C, seus teores são inferiores aos do leite de vaca. Vale ressaltar que a deficiência de vitamina B9 pode ocasionar anemia perniciosa (doença que resulta na perda das funções das células gástricas parientais), então, é de extrema importância que o leite caprino seja consumido dentro de uma dieta balanceada, enriquecida com vitaminas E, B9, B12 e C. Em relação ao teor de minerais, o leite caprino contém macronutrientes como cálcio, fósforo, sódio, potássio, cloro e magnésio, por isso é bastante recomendado para idosos, crianças não lactentes e pessoas com problemas de osteoporose.
O leite caprino já tem seu valor nutricional no meio científico e sua importância na alimentação humana, principalmente de crianças e idosos. Assim, entre todas as opções de leite existentes, hoje em dia, o leite caprino pode ser considerado uma excelente alternativa alimentar, tendo como principais atrativos, constituintes funcionais de alto valor biológico, que contribuem para preservação da saúde humana minimizando assim, o surgimento de doenças.
Referências
BOMFIM, M. A. D.; O uso do leite de cabras como um alimento funcional. In: IV Congresso Nordestino de Produção Animal. ;2006. Petrolina-PE. P. 25-44. (CD ROM).
CHILLIARD Y, FERLAY A, ROUEL J, LAMBERET G. A review of nutritional and physiological factors affecting goat milk lipid synthesis and lipolysis. J Dairy Sci 2003, 86: 1751-1770.
FISBERG, M.; NOGUEIRA, M.; FERREIRA, A. M. A.; FISBERG, R. M. . Aceitação e tolerância de leite de cabra em pré-escolares. In: de Pediatria moderna, São Paulo, v. 35, n.7, p. 526-537, 1999.
GONZÁLEZ, F. H. D.; DÜRR, J. W.; FONTANELI, R. S.; Uso do leite para monitorar a nutrição e o metabolismo de vacas leiteiras. Porto Alegre, 2001.p. 72.
QUEIROGA, R. C. R. E.; Costa, R. G. Qualidade do leite caprino. In: I Simpósio Internacional de Conservação de Recursos Genéticos-Raças Nativas para o sem-árido. Recife. P.161-171. 2004
RIBEIRO, E. L. A.; RIBEIRO, H. J. S. S.; Uso nutricional e terpêutico do leite de cabra. In: Semina: Ci. Agrarias, Londrina, v. 22, n.2, p. 229-235, jul./dez. 2001.
SANTOS, S. F.; CÂNDIDO, M. J. D.; BOMFIM, M. A. D.; SEVERINO, L. S.; Pereira, L. P. S. ARRUDA, P. C.L. Efeito da inclusão da caca de mamona na dieta de cabras leiteiras sobre a produção e a composição físico-química do leite. In: Anais do III Simpósio Internacional sobre Caprinos e Ovinos de Corte João Pessoa, Paraíba, Brasil, 05 a 10 de novembro de 2007. (CD ROM).
Eduardo de Bastos Santos
Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Pesquisa/ensino
postado em 26/09/2008
Artigo muito bom!!!
Abraço.
Prof. Eduardo Bastos - Disciplina de Medicina de Pequenos Ruminantes e coordenador do Projeto Universidade Solidária - atendimento itinerante de caprinos e ovinos.