O projeto, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), consiste em usar cabras transgênicas para obter o alimento rico em lisozima e lactoferrina, proteínas existentes no leite materno que têm propriedades antibióticas e antimicrobianas. Para tanto, a Universidade já conseguiu a autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para criar linhagens transgênicas de caprinos.
Por enquanto, o projeto está na fase inicial. O leite, importado da Universidade da Califórnia, em Davis, que é parceira, está sendo testado no Ceará em animais suínos e in vitro. Segundo a bióloga da Unifor, Luciana Bertolini, os resultados foram bons. "Nós obtivemos respostas positivas".
Além disso, os cientistas conseguiram a permissão do Ministério da Agricultura para a importação do sêmen de caprinos transgênicos da mesma universidade para que fêmeas de cabras gerem clones dos animais norte-americanos que já possuem transgenia para a produção da lisozima. As proteínas só são produzidas na glândula mamária do animal.
Os pesquisadores envolvidos no projeto também pretendem desenvolver a capacidade de produção da lactoferrina, por meio da criação de animais transgênicos que carreguem o gene dessa proteína. O processo, que está na fase de produção do embrião, prevê a transferência nuclear de células somáticas. O gene humano da lisozima e da lactoferrina é inserido no genoma do caprino. A Unifor é responsável pela criação e pelo alojamento dos animais transgênicos.
O projeto vai ser realizado em diferentes etapas, que compreendem o estudo etiológico da diarreia no semiárido; o desenvolvimento do caprino transgênico; a análise proteômica e o desenvolvimento do leite; além de estudos pré-clínicos e clínicos com o leite. De acordo com Luciana Bertolini, o leite pode atuar como fonte extranutricional de resistência a infecções. "A ideia é também ativar o sistema imunológico da criança que não mamou". O projeto teve início no Ceará e percorrerá outros estados do semiárido.
Conforme a bióloga, a estimativa é de que, daqui a cinco anos, o leite já possa ser distribuído para a população. A distribuição será feita pelo Ministério da Saúde. Os recursos para o projeto, orçados em R$ 6 milhões, são do Ministério da Ciência e Tecnologia. A taxa de mortalidade infantil no Estado sofreu uma redução de 13,3%, de 2006 para cá, mas ainda é um número significativo. Em 2009, a TMI foi de 15,7 por mil nascidos vivos.
Segundo o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Manoel Fonseca, a introdução do soro caseiro e dos agentes de saúde reduziram drasticamente a mortalidade por diarreia entre crianças, mas a doença está ligada também à falta de saneamento básico e de acesso à água tratada. "Ainda temos 35% da população do Ceará sem água tratada em casa, pessoas que acabam tendo de usar água de cisterna e de açudes". Para ele, essa é a origem do problema da diarreia que precisa ser combatida.
O coordenador aponta o aleitamento materno como o principal mecanismo de defesa da criança contra a doença. O leite enriquecido com proteínas humanas vai agir como leite materno. "Funcionará como meio nutricional para quem tem intolerância à lactose e que precisa ingerir proteína animal importante para o crescimento cerebral". Para o professor da UFC Aldo Lima, a pesquisa que faz parte do projeto de produção do leite vai desvendar as principais causas da diarreia para combater e prevenir a doença.
As informações são do Diário do Nordeste, adaptadas pela Equipe FarmPoint.
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