Rações com até 90% de concentrado na matéria seca da dieta tem sido utilizadas, porém, para que se possa obter adequado desempenho dos animais no confinamento, além, do balanço adequado de energia e proteína, um teor mínimo de fibra fisicamente efetiva é requerida.
A fibra é um componente muito importante na dieta de ruminantes, está associada ao estímulo da mastigação, motilidade ruminal, secreção de saliva, manutenção da estabilidade ruminal, consumo de matéria seca, além de fornecimento de energia. Por outro lado, quando há pouca forragem na dieta e as exigências em fibra não são devidamente atendidas, o animal pode apresentar problemas metabólicos, como a acidose ruminal, com redução no desempenho e podendo chegar à morte.
Dessa forma, o feno surge como uma das possíveis soluções, tanto ao problema da estacionalidade de produção das plantas forrageiras, permitindo que o excedente de forragem ou em áreas exclusivas de cultivo, possa ser armazenado e empregado na alimentação dos animais em épocas de escassez (período seco do ano), como constituindo-se em importante fonte constante de alimento, também representando excelente alternativa para a utilização como fonte de fornecimento de fibra fisicamente efetiva em dietas de alto concentrado para terminação de cordeiros em confinamento.
Dietas com alto teor de concentrado (carboidratos não fibrosos altamente fermentescíveis no rúmen) e baixa quantidade de forragem (FDN) podem provocar redução no pH ruminal, prejudicando a digestão da fibra e a produção microbiana, reduzindo o consumo de matéria seca e/ou ocasionando distúrbios nutricionais no animal.
Animais ruminantes necessitam de quantidade mínima de fibra na dieta para estimular a atividade de mastigação, manter fluxo de saliva e ambiente ruminal favorável para o desenvolvimento dos microrganismos responsáveis pela digestão (Nussio, 2006). Neste contexto o fornecimento de 10% de feno na matéria seca (MS) atende parte desta exigência de fibra, dependendo da qualidade e do tamanho de partícula. Geralmente é picado em partículas de aproximadamente 3 cm e misturado à ração, pois ovinos são altamente seletivos.
Outra ferramenta disponível ao produtor em rações com alto teor de concentrado é a utilização de aditivos como tamponantes e ionóforos, com o objetivo de evitar variações no pH ruminal, pois a fermentação de grandes quantidades de carboidrato não fibroso provoca diminuição no pH ruminal. Segundo Santra et al., (2003) dietas com tamponantes ajudam a prevenir a diminuição do pH ruminal, em cordeiros alimentados com rações de alto grão. Alguns tamponantes comumente utilizados em confinamentos de alto concentrado são calcário calcítico e bicarbonato de sódio (NaHCO3).
O calcário calcítico além exercer ação tamponante no rúmen, ajudando a manter o ambiente ruminal favorável para digestão da fibra pelos microrganismos, é também muito utilizado como fonte de cálcio em rações para animais. Sua ação como tampão no rúmen ainda é bastante questionada e os resultados de pesquisas são bastante variados, porém, este aditivo é intensamente utilizado em confinamentos de bovinos nos Estados Unidos em dietas com alto teor de carboidrato não fibroso (Brink & Steeke 1985; Owens et al. 1983).
Para o bicarbonato de sódio Russel & Chow (1993) relatam que a adição tem pouco efeito direto no pH do líquido ruminal, pois a fermentação ruminal é saturada com CO2, e a manutenção do pH seria causada pela diluição dos ácidos e maior taxa de passagem líquida, devido a um maior consumo de água pelos animais alimentados com dietas com bicarbonato de sódio. Entretanto, Kohn & Dunlap (1998) são contrários a este argumento, pois a adição de bicarbonato de sódio pode neutralizar diretamente a acidez do pH do líquido ruminal, mesmo com pressão de CO2 elevada, e a adição de água permite maior conversão de CO2 em HCO3, permitindo maior liberação de prótons.
Gastaldello Junior et al. (2007) (dados não publicados) trabalharam com cordeiros confinados da raça Santa Inês, alimentados com rações contento 90% de concentrado e 10% de feno de "coastcross" com adição de 1,3% de calcário calcítico, observando ganho médio diário de peso (GMD) de 279 g e consumo de MS de 1,0 kg/dia, porém, quando se adicionou monensina sódica nesta mesma ração, o GMD foi de 305 g e o consumo de MS de 0,90 kg/dia, mostrando um aumento de 10% no ganho de peso e melhor conversão alimentar quando se adicionou monensina na ração (Tabela 1).
No mesmo trabalho foi adicionado ainda 1% de bicarbonato de sódio na ração, onde se verificou um GMD de 291 g e CMS de 1,03 kg/dia para a ração sem monensina e GMD de 287 g e CMS de 0,99 kg/dia para ração com adição de monensina.
A utilização de práticas como confinamento com alto concentrado é sem dúvida uma ferramenta para produção de ovinos de forma rápida e eficiente, produzindo animais mais jovens com carcaças padronizadas de melhor acabamento, porém, a adoção desta técnica requer alguns cuidados. A utilização de feno como fonte de fibra assim como inclusão de aditivos ajuda a manter o ambiente ruminal favorável para digestão da fibra pelos microrganismos.
A adição de calcário calcítico associado com monensina sódica parece ser eficiente no controle do pH ruminal, proporcionando condições para o melhor desempenho animal. A inclusão de bicarbonato de sódio ainda é questionada, assim como seu meio de ação junto ao ambiente ruminal.
Tabela 1. Peso vivo, ganho de peso médio diário (GMD), consumo de matéria seca (CMS) e conversão alimentar (CA) dos cordeiros no período experimental.

Tratamentos:
T1) Monensina sódica + 1,3% Calcário Calcítico (CC);
T2) Monensina sódica + 1,3% CC + 1 % BS;
T3) 1,3% CC; T4) 1,3% CC+ 1% BS
Referências Bibliográficas
BRINK, D. R., STEELE, R. T., Site and extent of starch and neutral detergent fiber digestion as affected by source of calcium and level corn. Journal of Animal Science, 60: 1330. 1985.
JORDAN, R.M., MARTEN, G. C. Effect of weaning, age of weaning and grain feeding on the performance and production of grazing lambs. Journal of Animal Science, v.27, p. 174-180, 1968.
KOHN, R. A., DUNLAP, T. F. Calculation of the buffering capacity of bicarbonate in the rumen and in vitro. Journal of Animal Science. v. 76, p. 1702-1709. 1998.
NUSSIO, L.G., CAMPOS, F.P., LIMA, M.L. Metabolismo de carboidratos estruturais. In: Nutrição de ruminantes. BERCHIELLE, T.T; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Jaboticabal:FUNEP. 2006.
OWENS, F. N., GOETSCH, A. L., WEAKLEY, D.C., ZINN, R. A. Buffers and neutralizers in beef cattle. In: Buffers and Neutralizers and Electrolyte Symposium Handbook. Natl Feed Ingred. Assoc., west Desmoines, I A., 1983.
RUSSELL, J. B. & CHOW, J. M. Another theory for the action of ruminal buffers salts: decreased fermentation and propionate production. J. Dairy Sci., v.76, p.826-830, 1993
SANTRA, A. CHATURVEDI, O. H., TRIPATHI, R., KARIM, S. A. Effect of dietary sodium bicarbonate supplementation on fermentation characteristics and ciliate protozoal population in rumen of lambs. Small Ruminant Research, v.47, p.203-212, 2003.
SUSIN, I., Potencial produtivo de ovinos Santa Inês confinados e alimentados com dietas de alta proporção de concentrado. Piracicaba. Livre Docência, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo. 227p. 2003.