Micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por fungos com diferentes níveis de toxicidade em várias espécies animais, incluindo a espécie humana. A incidência destes metabólitos nos organismos animais pode causar problemas de saúde e conseqüentemente perdas econômicas em sistemas de produção animal. Os efeitos das micotoxinas no organismo animal são diversos, sendo dependentes do tipo de micotoxina, taxa e comprimento do efeito, espécie, idade, sexo e saúde do animal. Pode ocorrer depressão do sistema imunitário, reações alérgicas, desordens reprodutivas, problemas no sistema nervoso e respiratório, e redução da conversão e utilização dos alimentos. As micotoxinas podem gerar danos às membranas mucosas, e assim, reduzir a absorção de nutrientes, como também, diminuir a atividade do fígado, rins, órgãos reprodutivos e sistema imunitário (Nedelník & Moravcová, 2006).
As condições associadas ao processo de conservação de forragens (anaerobiose e baixo pH) são desfavoráveis para o desenvolvimento da grande maioria dos fungos. Entretanto, caso o silo seja passível de entrada de ar, como perfurações na lona ou no momento da abertura do silo, o desenvolvimento destes microrganismos se torna viável, principalmente em regiões que estão mais em contato com o ar (Cavallarim et al., 2004). Deterioração de silagens por fungos filamentosos envolvem perdas de nutrientes e energia e riscos por contaminação por micotoxinas (Wilkinson, 1999).
Embora existam centenas de micotoxinas descritas pela literatura, o número conhecido de micotoxinas que causam riscos a saúde animal é limitado (Morgavi & Riley, 2007). Segundo Garon et al. (2006), dentre as espécies de fungos encontrados, as toxicogênicas encontradas no milho antes da ensilagem e passíveis de produzirem micotoxinas são: Aspergillus flavus, Fusarium verticillioides e Fusarium proliferatum. Porém, a produção de suas micotoxinas são dependentes da interação de vários fatores de estresse ambiental. Outras espécies, como Aspergillus fumigatus, Byssochlamys nívea, Monascus spp., Penicillium roqueforti e Trichoderma spp. são adaptadas as condições de ensilagem e geralmente são identificadas em alimentos conservados. Dessa forma, a contaminação por fungos pode estar presente antes ou após o processo de ensilagem.
Zearalenona (ZEA) é um metabólito secundário produzida por diversas espécies do gênero Fusarium, incluindo F. culmorum, F. graminearum (Cladwell et al., 1970), como também F. equiseti e F. crookwellense (Bennett & Klich, 2003). A concentração de ZEA nos alimentos pode variar a poucos microrganismos até 276 mg/kg (Binder et al., 2007). Ruminantes são menos sensíveis à exposição por ZEA quando comparados aos monogástricos, devido ao ambiente ruminal destes reduzirem a quantidade desta toxina (Diekman & Green, 1992). Porém, esta teoria geral foi desafiada, quando Seeling et al. (2005) mostrou que o metabolismo ruminal é saturável, e varia de acordo com o regime de alimentação. Segundo Coppock et al. (1990), são raros os estudos divulgados na literatura, porém alguns estudos de casos sugerem que depois de exposição por altas doses de ZEA, novilhas pré-púberes desenvolvem enlargamento das glândulas mamárias e se tornam estéreis.
A produção de micotoxinas é dependente da espécie fúngica e ocorre sob certas condições, que incluem a presença de esporos do fungo, substrato orgânico e níveis adequados de umidade, oxigênio, temperatura e acidez (Moss, 1991; Whitlow et al., 1999).
As aflatoxinas são as micotoxinas que mais causam preocupação, pois apresentam propriedades carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas, causando grandes danos à saúde humana e elevados prejuízos econômicos no desempenho de animais domésticos, como os ruminantes (Lazzari, 1997). São produzidas principalmente pelas espécies Aspergillus flavus e A. parasiticus, presentes em vegetais como o amendoim, o milho e o caroço de algodão. A aflatoxina B1 (AFB1) é considerada uma das mais tóxicas produzidas por estas espécies. No fígado a AFB1 é biotransformada à aflatoxina M1 (AFM1), a qual é excretada no leite de animais em lactação (Battacone et al., 2005).
Acreditava-se que a taxa de passagem da micotoxina do alimento para o leite era de 2%. Porém, estudos recentes colocaram em evidência que tal taxa está correlacionada com dois fatores: potencial produtivo do animal e estágio de lactação. Os valores de 2 a 2,5% referem-se a vacas com produção entre 16-25 kg/dia em estágio de lactação avançado. Como os animais estão se tornando cada vez mais produtivos, com produção superior a 30 kg de leite, a taxa se torna mais elevada, com valores próximos a 4% (Veldman et al., 1992).
O crescimento de fungos pode vir acompanhado pela produção de micotoxinas na massa. Dessa forma, os animais que são alimentados com grandes proporções de silagem na ração (vacas leiteiras) podem intoxicar-se, causando efeitos diretos ao seu desempenho e colocando em risco a saúde humana que utiliza alimentos de origem animal ao longo da cadeia alimentar (Whitlow & Hagler Jr., 1997).
Por estas razões, se faz necessário colocar em ação todas as estratégias para reduzir a penetração de O2 no silo, evitando seus efeitos deletérios, tanto de ordem nutricional como sanitária, durante o armazenamento ou durante o consumo da silagem.