Embora todos saibam da dificuldade da manutenção dos negócios nas próximas gerações, muitos ainda não fazem nada ou muito pouco para planejar o processo sucessório. Embora isto venha mudando nos últimos anos, ainda encontramos poucos produtores ou empresários rurais preocupados com isto.
O problema pode estar na palavra "sucessão", que muitas vezes é mal interpretada. A sucessão em uma empresa rural, não quer dizer que estamos pensando na morte do patriarca ou fundador, e sim na continuidade do negócio com o patriarca ou fundador à frente do mesmo, mas com regras claras de continuidade e crescimento.
É fato que ninguém cria um negócio para uma geração! Os pais se sacrificam, passam necessidades, enfrentam desafios, para quê? Conscientemente ou inconscientemente, todo empresário rural tem um sonho: criar e expandir sua empresa, deixando aos filhos um excelente negócio.
Para que um processo de continuidade da empresa rural com crescimento e distribuição de lucros seja bem sucedido, é importante que se elaborem regras para toda a família. Quando falamos em família, estamos falando dos sócios e dos futuros sócios.
O problema pode estar no fato de que os fundadores não tratem a empresa rural como um negócio ou uma empresa, e sim como agricultura e pecuária, que tem o fator de produção "terra", como um bem de valor econômico e sentimental, muitas vezes, incomensurável. Então temos que falar não mais em terra ou propriedade ou fazenda ou estância, mas sim em empresa rural ou negócio.
Se os fundadores conseguirem passar à próxima geração a ideia de que farão parte de uma empresa ou negócio, e que, portanto, receberão uma porcentagem desta empresa ou negócio, teremos evoluído muito no processo de continuidade do empreendimento.
Alguns pais planejam o futuro da empresa ou negócio rural, pensando em comprar terras para deixar aos filhos ou sucessores em equilíbrio de tamanho e condições, para explorarem os seus quinhões no futuro de forma independente. Neste sentido, é comum encontrarmos propriedades do mesmo grupo familiar com mais de uma sede, mais de um armazém ou unidade de secagem/armazenagem, tudo pela busca de equilibrar as futuras frações de terra que caberá para cada um dos sucessores.
Esta situação já demonstra um pouco da tendência de alguns que procuram planejar a sucessão do negócio, deixando formatadas unidades autônomas, o que normalmente é um erro.
Quando tratamos a terra ou propriedade ou fazenda ou estância, como uma empresa rural ou negócio, temos que pensar em uma unidade para mantermos escala de produção, termos poder de barganha na compra e na venda dos produtos e insumos e, fundamentalmente, diluir custos fixos. Caso contrário, como poderão os sucessores investir em uma colheitadeira, se ficarem com uma área de 200 hectares? Como fará aquele que recebe a estrutura de secagem/armazenagem, que antes atendia 1.000 hectares e agora irá atender somente 200 hectares (sua herança)? Como ficará aquele que recebe em herança o sistema de irrigação, mas fica sem o reservatório ou tomada de água que ficou com outro herdeiro?
Para mantermos a empresa rural de forma única e com potencial de crescimento, é muito importante estabelecer regras para aqueles que administram e para aqueles que são somente sócios. Temos que aprender a separar família do negócio. Isto muitas vezes parece difícil, mas é necessário para a sobrevivência do empreendimento.
Sugestões para alcançar essas metas:
• Separar o caixa do negócio (recebimentos e despesas), do caixa da família;
• Definir uma retirada para os donos dos bens explorados pelo negócio ou empresa;
• Definir a remuneração dos administradores;
• Definir o volume de recursos a ser comprometido, anualmente, com investimentos e amortizações de dívidas de investimento;
• Definir um percentual do resultado para a criação de um fundo de reserva para eventuais perdas e danos climáticos;
• Definir reuniões entre os sócios com apresentação dos demonstrativos econômicos e financeiros do negócio ou empresa;
• Distribuir resultado entre os sócios do negócio ou empresa.
Os administradores do negócio têm que ter consciência de que ao mesmo tempo em que são administradores, também podem ser sócios, mas devem saber se portar como administradores e também como sócios.
Os administradores têm que entender que o objetivo da empresa ou negócio é crescer e ganhar mercado, portanto, reinvestir a totalidade dos lucros auferidos. Por outro lado, o objetivo dos sócios é o de satisfazer suas necessidades pessoais, ou seja, distribuição dos lucros.
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."