Têm sido comuns afirmações equivocadas de que os caprinos mas, principalmente os ovinos, preferem pastagens de pouca altura. Porém, vários trabalhos constataram a maior seleção destes animais por locais das pastagens com maior altura (Betteridge et al., 1994; Carvalho, 1997; Silva, 2006). No caso dos caprinos, muitas vezes esse aspecto não é citado devido ao comportamento mais exploratório dos animais, sua preferência por arbustos e sua possibilidade de posição bipedal para se alimentar.
Nesse contexto, Silva (2006) trabalhou com as gramíneas Aruana (Panicum maximum) e Hemártria (Hemarthria altíssima cv. Flórida) no Paraná avaliando-as em diferentes alturas de manejo com caprinos. No caso, o capim Aruana estava disponível aos animais em duas alturas médias, 20 e 50 cm, e a Hemártria, em 14 e 39 cm.
A preferência dos caprinos foi facilmente percebida em relação à altura da pastagem e à massa disponível de folhas. Assim, os caprinos pastejaram por mais tempo e, conseqüentemente, tiveram oportunidade de ingerir maior quantidade de forragem quando as alturas e as disponibilidades de folhas eram maiores. Isso ocorreu, no caso do capim Aruana quando a pastagem estava manejada com 50 cm de altura e no caso da hemártria com 39 cm. Na Figura 1, pode-se verificar isso de forma clara, através do percentual de tempo em pastejo diário.
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Figura 1. Pastagens de Aruana e hemártria ofertadas com diferentes alturas e o percentual do tempo destinado ao pastejo de caprinos (Silva, 2006).
Esse efeito da altura também havia sido observado em pastagem de grama-estrela (Cynodon nlemfuensis), na qual cabras da raça Saanen consumiram mais forragem nos locais que apresentaram maior altura da pastagem (Ribeiro et al., 2000).
É importante o entendimento que o fato dos animais pastejarem principalmente locais de maior altura não acontece em vão.
Normalmente, esses locais contêm uma maior massa de folhas, e quanto maior a quantidade de folhas, melhor a qualidade da forragem uma vez que há maior teor de proteína e melhor digestibilidade e, provavelmente, isso proporcione maior consumo pelo animal.
É importante lembrar que o processo de pastejo ocorre desde os estratos superiores em direção aos inferiores e os trabalhos de Martinichen (2002) e Silva (2006) indicaram que o incremento na altura da pastagem proporcionou aos animais um horizonte mais profundo de folhas, o que pode proporcionar aos animais a oportunidade de alta ingestão de forragem, como pode ser observado na Figura 2, com as duas alturas estudadas na pastagem de capim Aruana para os caprinos.
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Figura 2. Efeito da altura da pastagem de capim Aruana na distribuição vertical da forragem (Silva, 2006).
A altura indica então a quantidade de biomassa disponível para os animais. A preferência por maior altura significa oportunidade de alta ingestão à medida que a altura potencializa maior consumo de forragem (Carvalho et al., 2001).
Vários autores relataram correlação positiva entre a altura e a massa de forragem (Martinichen, 2002; Perin, 2003; Silva, 2004; Silva, 2006). No entanto, vale dizer que, por outro lado, em muitas situações a maior altura da pastagem pode significar maior presença de tecidos lignificados, tais como os colmos das plantas, que são indigestíveis (Prache e Peyraud, 2001). Portanto, é importante que a forragem seja colhida nova, antes do declínio de sua qualidade. Então, deve-se estar atento para o fato de que pastagens demasiadamente altas podem dificultar o consumo dos animais em função de sua limitação qualitativa, que por sua vez limita a quantidade a ser ingerida pelos animais para atender sua demanda energética e/ou proteica.
Além disso, o excesso de altura pode indicar provável perda de forragem, ou seja, o animal não consegue ingerir e começa a sobrar pasto, e isso resulta em perda do alimento produzido, implicando em perdas econômicas. Ou seja, a sua alternativa forrageira de baixo custo, que seria a pastagem, torna-se improdutiva por ser utilizada na forma inadequada.
Observa-se então que, nesse contexto, a orientação e o monitoramento da altura pelo técnico e/ou produtor é fundamental. Nesse sentido, recomenda-se que o ponto de medição de altura no perfil da pastagem seja feito baseando-se na região das folhas.
Lembra-se que o momento de utilização da forragem deve levar em conta dois aspectos: as forrageiras devem possuir área foliar para realizar fotossíntese e produzir massa; por outro lado, os animais devem consumir essa área foliar para obtenção de nutrientes com qualidade. Nesse caso então, o manejo mais apropriado deve garantir a rebrota e o crescimento da pastagem, conciliando quantidade disponível para atender as demandas nutricionais do animal conforme seu estado fisiológico, e mais a qualidade dessa massa ofertada.
Para encontrar esse ponto ótimo de equilíbrio é preciso encontrar nas propriedades o número exato de animais por unidade de forragem disponível nos piquetes de pastagem. Este é o conceito de pressão de pastejo, já discutida anteriormente nesta coluna, que nada mais é do que a preocupação em colocar, em determinado pasto, número de animais que esteja em equilíbrio com a produção forrageira.
Através do manejo pela altura busca-se exatamente esse ponto ótimo para cada espécie forrageira e para cada situação de pastejo. Na Tabela 1, estão apresentadas sugestões de manejo de algumas pastagens através da altura para caprinos e ovinos de diferentes categorias animais (Carvalho, 2004).
Tabela 1. Proposta de manejo da altura para ovinos e caprinos em diferentes espécies forrageiras e a provável massa de forragem.
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Pode-se dizer então que a altura das pastagens é um indicador prático bastante consistente para caracterização de estratégias de manejo em condições de campo e de fácil adoção pelos produtores e técnicos, uma vez que não gera a necessidade de nenhuma ferramenta sofisticada para a sua execução e é de fácil entendimento pelo pessoal de campo.
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Figuras 3 e 4. Medição de altura da pastagem com bastão medidor
Literatura Citada
BETTERIDGE, K.; FLETCHER, R.H.; LIU, Y.; COSTALL, D.A.; DEVANTIER, B.P. Rate of removal of grass from mixed pastures by cattle, sheep and goat grazing. Proceedings of New Zealand Grassland Association, v. 56, p. 61-65, 1994.
CARVALHO, P.C. de F. Relações entre a estrutura da pastagem e o processo de pastejo com ovinos. Jaboticabal. 1997. Tese (Doutorado em Zootecnia - Produção Animal) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista.
CARVALHO, P.C.de F. Princípios Básicos do manejo das pastagens. Práticas em Ovinocultura. Ferramentas para o sucesso. Pereira Neto, O.A. (organizador). SENAR-RS. Porto Alegre. 2004.
CARVALHO, P.C.F.; MARÇAL, G.K.; RIBEIRO FILHO, H.M.N.; POLI, C.H.E.C.; MORAES, A. ; DELAGARDE, R. Importância da estrutura da pastagem na ingestão e seleção de dietas pelo animal em pastejo. In: Matos, W.R.S. et al. (Eds) A produção animal na Visão dos brasileiros, Sociedade Brasileira de Zootecnia, Piracicaba: FEALQ 2001. p. 853-871.
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