Em virtude da crescente demanda pela carne ovina, a ovinocultura de corte está se tornando uma atividade cada vez mais atraente. Em decorrência disso, nas regiões Sudeste e Centro-oeste há um grande interesse pela criação de ovinos para produção de carne como alternativa de diversificação e ampliação de renda nas pequenas e médias propriedades.
Por ser uma atividade recente em muitas regiões, os trabalhos científicos envolvendo sistemas de produção com ovinos em pastagens de forrageiras tropicais são escassos. Entretanto, há necessidade de se abordar este assunto, uma vez que na maioria das propriedades rurais, o pasto, é a única ou a principal fonte de alimento.
A escolha de uma espécie forrageira para pastejo no início da criação de ovinos é de fundamental importância. A forragem tem que estar de acordo com as condições edafoclimáticas, manejo e consequentemente com o sistema de produção que será utilizado uma vez que para o pastejo, é fundamental o conhecimento do comportamento e hábitos de crescimento da forrageira, bem como as exigências nutricionais das classes animais que se alimentarão desta forragem.
Cabe salientar que é em vão procurar por capins "milagrosos" (mais produtivos, baixa exigência em fertilidade, tolerantes a seca, resistentes a pragas e que não possuam estacionalidade de produção). Com certeza absoluta estes capins não existem. Toda planta forrageira apresenta determinadas vantagens e limitações.
Todavia para que haja produção e consequentemente correta utilização da pastagem escolhida, é fundamental que se estabeleçam inicialmente, níveis de fertilidade adequados para cada forrageira em questão. São distintas as recomendações para cada forrageira, mas pode-se considerar que para as forragens do Gênero Panicum e Cynodon, os níveis de V% do solo devem estar ao redor de 75 %, sendo que para as Brachiarias, ao redor de 60 %. No plantio, os níveis de fósforo devem ser ajustados para 10-15 ppm (resina) e os níveis de potássio corrigidos quase na totalidade em cobertura e nos ciclos de pastejo, de 3-5% da CTC do solo. Após a emergência e nos ciclos de pastejo, a adubação é basicamente com nitrogênio e potássio, sendo estes os combustíveis para uma maior ou menor produtividade esperada, podendo-se utilizar adubos químicos ou a adubação orgânica como a cama de frango.
Para ovinos, certas características inerentes a espécie, como o comportamento alelomimético (ação idêntica entre os membros de um grupo no mesmo momento e atuando uns sobre os outros), é de grande importância. De maneira geral, os ovinos pastejam em grupos, sendo difícil observar um animal isolado do restante do rebanho. Assim, é importante que a forrageira escolhida seja de porte baixo (<80 cm de altura) para que haja a possibilidade de visão e percepção entre os animais do grupo de pastejo.
Outra característica dos ovinos é o pastejo seletivo, possuindo a habilidade na apreensão de partes selecionadas das forrageiras. Segundo MEIRELLES et al. (2008) as espécies mais indicadas para pastagens de ovinos (Tabela 1) devem ter porte baixo, com hábito de crescimento rasteiro, prostrado, que proporcionam boa cobertura do solo e que tolerem manejo baixo (saída dos animais da pastagem com uma altura menor).
Tabela 1 Principais espécies ou cultivares de forrageiras para ovinos com suas respectivas alturas de pastejo

Novamente, para a forrageira ideal para ovinos, o produtor deve atentar-se para uma forrageira adequada para o sistema de pastejo adotado, uma vez que para sistemas que se utilizem do manejo rotacionado de pastagens, aconselha-se utilizar as pastagens mais produtivas, sendo elas do Gênero Panicum (Tanzânia) e Cynodon (Tifton e Coast cross). Para tanto, as espécies do gênero Brachiaria também podem ser utilizadas (sendo estas mais indicadas para sistemas de lotação contínua), porém apresentam menores produtividades e também podem acometer os ovinos com problemas de fotossensibilização, sendo este, em parte solucionado, desde que realizado correto manejo e adaptação dos animais adultos para o pastejo da Brachiaria. Animais jovens, preferencialmente devem se alimentar de outro capim, excetuando-se a Brachiaria, principalmente a B.decumbens ou Braquiarinha.
Nos sistemas de produção intensiva, o sistema de pastejo com lotação rotacionada é o mais indicado, por garantir maior uniformidade e eficiência de pastejo. Para tanto, o número de piquetes em cada pastagem será em função do período de descanso (PD), que varia de acordo com a espécie forrageira utilizada (Tabela 2) e, do período de ocupação (PO), que pode ser obtido pela equação: Número de piquetes = (PD / PO) + 1. O período de ocupação deve ser com menor duração possível, podendo variar de 1 a 5 dias garantindo assim melhor rebrota das plantas e facilitando o controle da lotação da pastagem.
Em resumo, o sistema de manejo de lotação rotacionada permite conduzir uma forrageira a ser consumida pelos animais no ponto ótimo de manejo, respeitando sua fisiologia e consequentemente lhe proporcionando ser perene. Todavia, cabe ressaltar que embora as forrageiras tropicais apresentem características distintas quanto ao manejo e hábito de crescimento, possuem valores nutricionais semelhantes (AUMONT et al., 1995).
Não podemos erroneamente confundir idade cronológica com idade fisiológica, ou seja, tomando por base o capim Tifton, com ponto ótimo de manejo de 18 dias, estará fisiologicamente com a mesma idade quando comparado ao capim Tanzânia (28 dias de ponto ótimo). Assim, não será fator de escolha entre os capins tropicais, seu valor nutritivo. Ainda, os capins de clima temperado dentre eles o azevén e aveia, apresentam maiores valores nutritivos, porém são menos produtivos.
Tabela 2 Período de descanso em dias para as gramíneas forrageiras utilizadas em sistema de pastejo com lotação rotacionada sob manejo intensivo

O manejo da pastagem deve ser conduzido no sentido de oferecer alimento de elevado valor nutritivo ao animal em pastejo, respeitando a fisiologia das plantas forrageiras, a fim de garantir sustentatibilidade da pastagem. Portanto, é fundamental respeitar as alturas de manejo, que dependem das características morfofisiológicas de cada planta forrageira (MEIRELLES et al., 2008).
Um fator que assusta grande parte dos produtores de ovino é a verminose. A localidade da propriedade, época do ano e erros de manejo, acometem ainda mais aumentando deste problema. Assim, o correto manejo do pasto, associado a um correto manejo sanitário deve ser adotado dentro da propriedade. Manejar a pastagem adequadamente pode diminuir consideravelmente a infestação de parasitas nos animais porque os animais serão menos acometidos pela ingestão de larvas uma vez que grande parte das larvas está concentrada nos primeiros dois centímetros acima do nível do solo por razões associadas ao microclima local (CARVALHO et. al., 2002).
Potencionalmente, nossa pastagens podem suportar altas taxas de lotação de até 40-50 ovinos adultos por hectare. No entanto, para se fazer uso destes números, alguns fatores devem ser considerados, dentre eles o descarte dos animais problemas, uma vez que 10 a 20 % do rebanho ovino são portadores de grande parte da infestação parasita. Fazer uso de manejo correto e estratégico dos vermífugos e acima de tudo, respeitar o manejo correto das forragens, principalmente em função da altura do capim na entrada e saída dos animais nos piquetes de pastejo. Ovinos mantidos em boas condições nutricionais, recebendo níveis apropriados de proteína e energia na dieta, com certeza, apresentarão maior resistência às infecções por nematódeos gastrintestinais.
Sabe-se que independentemente da forrageira escolhida, seja ela nativa ou cultivada bem como o manejo adotado, a estacionalidade de produção de forragem irá ocorrer em virtude da falta de luz, temperatura e umidade, sendo que nenhum destes fatores, controlados sozinhos, irá eliminar totalmente a estacionalidade que diminuirá a produção para ao redor de 10 a 20 % da produção anual. Assim é de fundamental importância que o produtor procure formas para suplementar os animais na seca seja com silagem, feno, cana-de-açúcar ou até mesmo com o uso da pastagem diferida.
Referências Bibliográficas
AUMONT, G.; CAUDRON, I.; SAMINADIN, G.; XANDÉ, A. Sources of variation in nutritive values of tropical forages from the Caribbean. Animal Feed Science and Technology, v.51, p.1-13, 1995.
CARVALHO, P.C.F., Pontes, L.S., BARBOSA, C.M., FREITAS, , T.M.S. Pastejo Misto: alternativa para utilização eficiente das pastagens. In: SILVA, J.L.S., GOTTSCHALL, C.S., Rodrigues, N.C. Manejo reprodutivo e sistemas de produção de bovinos de corte. Anais... VII Ciclo de palestras em Produção e Manejo de Bovinos, p.61-94. 2002.
CORRÊA, L. A. Produção intensiva de carne bovina a pasto. In: CONVENÇÃO NACIONAL DA RAÇA CANCHIM, 3., 1997. Anais... São Carlos: EMBRAPA - CPPSE/São Paulo: ABCCAN, 1997 p.99-105.
MEIRELLES, Paulo Roberto de Lima ; COSTA, Ciniro ; FACTORI, Marco Aurélio ; SANTOS, W. A. . Pastagens para Ovinos. In: III SOUD - Seminário de Ovinocultura da UNESP de Dracena, 2008, Dracena. SOUD - Seminário de Ovinocultura da UNESP de Dracena, CD Rom. Dracena : UNESP, 2008
RODRIGUES, L.R.A. Espécies forrageiras para pastagens: gramíneas. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 8., 1986, Piracicaba, SP. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1986. P. 129-146.