O que leva uma ovelha a ter um comportamento peculiar na época da parição? Lembrando-se sempre do que é primordial para uma espécie - sobreviver e reproduzir, entendemos que todo o comportamento da ovelha serve para garantir essa perpetuação da espécie ao máximo.
Durante o parto, tanto a mãe quanto sua cria estão muito vulneráveis e suscetíveis a ataques de predadores, por isso é importante que a ovelha tome alguns cuidados para diminuir essa suscetibilidade.
Cuidados como encontrar lugares seguros, encurtar o tempo de parição, proteção, minimizar as evidências de que haverá ou de que está havendo um parto e recuperar-se rapidamente incluem alguns passos que garantem o sucesso da parição.
Mortalidade de cordeiro na casa dos 10-15% são facilmente observadas no estado de São Paulo, sendo que alguns rebanhos têm taxas até maiores, como 25% de perdas de cordeiros até o desmame. Ao redor do mundo, altas taxas também são observadas, como 9,2% em Tennesse (E.U.A.) e taxas de 5 a 15% em outros estudos. Grande parte dessas mortes ocorre logo após o nascimento, e muitas das causas de mortalidade estão diretamente ligadas ao comportamento.
Comportamento no pré parto
É extremamente importante que fiquemos atentos aos primeiros sinais que a ovelha dá ao aproximar-se a hora do parto. Dois fenômenos são reportados no pré parto de ovelhas: o isolamento e a busca de proteção, ambos vantajosos para os cordeiros.
O primeiro deles é a tendência da ovelha de separar-se do rebanho, porém isso nem sempre acontece. Alguns pesquisadores encontraram resultados bastante diferentes. Esse isolamento ocorre com maior ou menor intensidade de acordo com a raça, e também sofre influência de algumas técnicas de manejo, como tamanho de piquete, taxa de lotação e outros. Pesquisas com ovelhas selvagens demonstraram que todas se isolaram para parir, enquanto outro trabalho com ovelhas da raça Merino levantou que 90% das ovelhas pariram onde quer que estivessem. Outro estudo com Merinos e ovelhas de raças britânicas encontrou que 2/3 das ovelhas afastaram-se do rebanho.
A procura por abrigo (proteção) no pré parto também é um sinal, e pode ser importante para melhorar as condições do parto, sobretudo em condições adversas de clima, porém também há diversidade nos resultados encontrados em diversos trabalhos. Alguns estudos na Austrália com Merinos mostraram pouca tendência das ovelhas procurarem abrigo mesmo no frio, enquanto em estudos com ovelhas Lacaune a procura por abrigos aumentou com frio e vento.
Ovelhas tosquiadas têm maior propensão a procurar abrigo, e esse fato leva a uma adaptação no manejo, tosquiando as ovelhas 6 a 8 semanas antes do parto. Nos Estados Unidos, tem sido observado também que ovelhas tosquiadas antes do parto são mães mais atentas, além da tosquia diminuir o espaço necessário por ovelha confinada. Porém não devemos esquecer que tosquiar o rebanho 2 vezes ao ano apresenta um acréscimo na mão de obra e redução no crescimento da lã, com perda de seu valor.
Caso as ovelhas estejam confinadas em baias, provavelmente irão procurar os cantos para parir.
Comportamento durante o parto
A parição pode ocorrer a qualquer hora do dia ou da noite, porém resultados de pesquisas demonstraram que há uma concentração dos partos em alguns horários, como das 09:00 da manhã até o meio dia e das 15:00 às 18:00. Alguns estudos também encontraram relação entre as parições e a hora do trato, demonstrando que quando o trato é oferecido de manhã, as parições se concentraram mais no período noturno.
Conforme o parto se aproxima, a ovelha fica inquieta, começa a caminhar em círculos, vocaliza e abaixa-se e levanta-se repetidamente. Geralmente esse comportamento ocorre 60 a 90 minutos antes do parto, e algumas ovelhas nem demonstram todos eles. A ruminação e apreensão de alimentos geralmente cessam, e esse período de inquietação é menor em ovelhas mais velhas.
Algumas ovelhas podem apresentar interesse em cordeiros neonatos nas duas semanas que antecedem o parto, chegando em alguns casos a 21% de casos, porém geralmente as taxas de "furto" de cordeiro variam de 0-2,2% em ovelhas mais velhas até 10-15% em borregas primíparas. Em um estudo, metade das ovelhas que roubaram outro cordeiro no pré parto abandonaram seu próprio cordeiro após o parto.
O trabalho de parto em si é curto, geralmente leva menos de uma hora após a primeira protusão. Ovelhas de primeiro parto podem passar de uma hora de trabalho de parto, e ovelhas mais velhas podem encurtar por até meia hora.
Caso o parto esteja demorando mais de uma hora em ovelhas maduras ou mais de 2 horas nas borregas, geralmente é necessário intervir. Elas normalmente deitam nas últimas horas do parto, mas podem ficar em pé no momento da saída do cordeiro.
Outro comportamento típico, que serve para manter a ovelha próxima ao local de parição é o interesse delas pelo líquido amniótico que sai de sua vagina. Constantemente elas cheiram e lambem esse fluido. Um trabalho levantou que essa atração pelo "ninho" pode ser suficientemente forte para mantê-la no local mesmo se o cordeiro é retirado de lá.
Esse fato tem uma grande implicação no manejo, levando-nos a evitar qualquer manejo que faça com que o cordeiro saia de perto da mãe nas primeiras horas pós parto.
Referências bibliográficas
Gill, Warren - Applied Sheep Behavior - Agricultural Extension Service , The University of Tennessee
Fernandes, Simone - Comportamento Materno - O Ovelheiro - nº92, janeiro/fevereiro, 2008.