Os agentes causadores da doença representam as bactérias Mannheimia haemolytica (anteriormente designada como Pasteurella haemolytica) e Pasteurella multocida (MARTIN et al., 1996), microorganismos oportunistas que figuram como os principais responsáveis pela doença do trato respiratório superior de bovinos, ovinos e caprinos em todo o mundo (ZAMRI-SAAD et al., 1996). A Figura 1 ilustra a importância da pasteurelose como causa de pneumonia e mortalidade em cordeiros.
Como naturalmente os diversos sorotipos de Pasteurella e Mannheimia habitam o meio ambiente (incluindo o solo, pastagens, aguadas e instalações) e o sistema respiratório tanto de animais doentes quanto daqueles clinicamente sadios (VIANA et al., 2007), algumas situações predisponentes como os quadros de imunossupressão do hospedeiro (secundária às infecções primárias por vírus ou micoplasma), mudanças de temperatura, elevação de umidade e ventilação deficiente favorecem o estabelecimento do microorganismo e disseminação da doença até o trato respiratório inferior levando aos quadros de pneumonia. Qualquer condição de estresse pode promover uma queda na atividade do sistema imune de cordeiros e cabritos devido à intensa liberação do hormônio cortisol, situação que predispõe aos surtos de pneumonia ou infecção generalizada associada a pasteurelose.
Figura 1 - Frequência dos agentes etiológicos isolados a partir dos pulmões e/ou secreções respiratórias de cordeiros que vieram a óbito com sintomas compatíveis com pneumonia. Mais de 50% dos óbitos atribuídos aos quadros de doença respiratória foram causados pela pasteurelose. Adaptado de Lacasta et al., (2008).
No Brasil a doença atinge um maior número de animais durante os meses chuvosos de fevereiro a março (ARAÚJO et al., 2009), embora Lacasta et al., (2008) não tenham observado a influência significativa da estação do ano e da temperatura ambiental na incidência dos quadros de pneumonia ovina na Espanha. Já para a pasteurelose caprina aponta-se também uma maior ocorrência de casos em países de clima tropical (Purdy & Straus, 1995) durante os meses mais quentes e chuvosos.
Sinais clínicos
Os microorganismos causadores da pasteurelose multiplicam-se rapidamente na nasofaringe e nas tonsilas dos animais susceptíveis após qualquer insulto que comprometa a resistência imunológica animal, havendo uma ampla disseminação por toda mucosa respiratória, podendo atingir até mesmo o epitélio dos alvéolos pulmonares nos casos mais severos (NARAYANAN et al., 2002).
O exame clínico dos animais enfermos frequentemente revela crepitação durante a auscultação da traquéia e pulmões. Clinicamente a dificuldade respiratória e a elevação da temperatura são os principais sinais detectados, assim como a secreção ocular e nasal, congestão de mucosas oculares, tosse intermitente e salivação espumosa que também podem ser observados (ARAÚJO et al., 2009; RADOSTITIS et al., 2002). A pneumonia ou broncopneumonia representam as causas primárias dos óbitos de ovinos e caprinos acometidos pela pasteurelose.
Além da forma pulmonar, a pasteurelose pode-se manifestar na forma septicêmica em cordeiros (infecção generalizada), que geralmente ocorre concomitante com a mastite em ovelhas (ARAÚJO et al., 2009). Em 80% dos quadros de mastite aguda as bactérias do gênero Pasteurella e Mannheimia associam-se a outros agentes como o Staphylococus aureus no desencadeamento da doença (RADOSTITIS et al., 2002).
Quadros de aborto podem ocorrer como condição secundária ao estresse desencadeado pela própria doença (SMITH, 2006), embora a presença de lesões macro e microscópicas nos órgão respiratórios dos fetos abortados (especialmente a formação de nódulos multifocais na cavidade nasal e pulmões) sugerem um efeito direto dos microorganismos na fisiopatologia do aborto.
Novos estudos também apontam os agentes etiológicos da pasteurelose como causadores de patologias nos órgãos reprodutivos de animais adultos. García-Pastora et al., (2009) relataram quadros de aderência e atrofia testicular além da formação de granulomas espermáticos em carneiros infectados pela Pasteurella multocida, e severa epididimite e atrofia testicular em reprodutores acometidos pela Mannheimia haemolytica. Ambos os quadros representam formas menos frequentes de manifestação da pasteurelose levando a infertilidade animal.
Tratamento e Prevenção
Preconizam-se como antibióticos de eleição àqueles pertencentes ao grupo das tetraciclinas, sendo que a Mannheimia haemolytica e a Pasteurella multocida também mostram-se susceptíveis às penicilinas e aos antimicrobianos à base de sulfa, porém esses dois últimos possuem o inconveniente de serem necessárias várias aplicações para que se consiga êxito ao tratamento.
Alguns países dispõe de vacinas para o controle da pasteurelose. No entanto, reporta-se uma grande variabilidade entre os constituintes de cada formulação comercial levando a uma grande variabilidade na eficácia das vacinas como ferramenta de prevenção da doença (MEHMET AKAN et al., 2006).
Nesse contexto, medidas gerais que garantam o bem estar animal como um correto manejo nutricional e sanitário, além da instituição de boas práticas de manejo como limpeza de instalações, baixa lotação animal, estabelecimento de período de quarentena para animais a serem introduzidos no rebanho representam as principais estratégias para evitar os estados de estresse e a supressão imune dos animais. Como cordeiros e cabritos recém nascidos representam a categoria animal mais susceptível aos quadros de pneumonia, atenção especial deve ser dada no manejo sanitário e conforto das instalações no período pós-parto.
Referências bibliográficas
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