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Formas de organização na comercialização da carne ovina

Por Marina A. Camargo Danés
postado em 26/10/2006

10 comentários
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O desenvolvimento de uma cadeia produtiva depende da estruturação de cada elo do sistema de produção e principalmente da relação entre eles. De nada adianta cada segmento desempenhar sua função de forma eficiente se as transações entre eles impedirem a transferência dessa eficiência ao processo como um todo.

A ovinocaprinocultura está em franco crescimento e tem grande potencial de se tornar uma atividade economicamente sustentável e significativa no agronegócio brasileiro.

Tem-se observado aumento no número de criadores e de indústrias processadoras, especialização dos insumos, maior enfoque das unidades de pesquisas, além de algumas iniciativas isoladas para popularizar o consumo dos produtos de origem caprina e ovina.

Isso mostra que cada segmento está trabalhando para promover - ou acompanhar - o desenvolvimento da ovinocaprinocultura. Entretanto, ainda não é possível perceber, entre os elos dessa cadeia, organização suficiente para promover um crescimento significativo da atividade.

Tomando como exemplo a cadeia produtiva da carne ovina, depara-se com uma situação em que todos sabem o caminho a percorrer, mas algo impede que o primeiro passo seja dado. A produção do país não é suficiente para suprir a demanda da população; o consumo per capita ainda é muito pequeno, indicando um potencial crescimento do mercado; e tem-se totais condições para aumentar e regularizar a produção de carne e atender esse mercado.

Porém há um impasse que torna este cenário um pouco mais complexo. De um lado, produtores estão apreensivos em aumentar sua escala de produção e depois encontrar dificuldades de abate e colocação do produto no mercado. De outro lado, investidores receiam investir em plantas frigoríficas e processadoras e não ter oferta de produto em quantidade e freqüência que sustente as instalações.

De certo modo, ambas as preocupações têm razão de ser. A atual realidade do setor mostra produtores reclamando da falta de frigoríficos e frigoríficos trabalhando com ociosidade em sua capacidade instalada. Onde, então, está o problema? Não bastaria que um dos dois segmentos desse o primeiro passo para incentivar e assegurar o investimento do outro?

O problema é que dar esse primeiro passo não é uma iniciativa tão simples. O investimento necessário para que qualquer uma das partes aumente (ou crie) sua capacidade produtiva é totalmente dependente das transações que serão realizadas com a outra parte.

No caso da carne ovina, tanto o produtor quanto o frigorífico teriam que investir em ativos altamente específicos para possibilitar esse crescimento. Um ativo específico é aquele que perde total ou parcialmente seu valor quando a atividade para o qual foi desenvolvido não acontece. Um exemplo bastante claro é um animal PO, um ativo muito específico. Se por acaso ele não servir para seus fins de melhoramento genético, a alternativa é vendê-lo no gancho por um valor menor, constituindo um caso típico de prejuízo por interrupção da transação.

No caso do produtor de carne, por exemplo, os investimentos em instalações para sua criação, animais, e mão de obra especializada são altamente específicos e esses ativos perderiam seu valor se não forem utilizados para a produção de carne ovina.

Já no caso da indústria, o investimento nas instalações do frigorífico e na mão de obra qualificada também é específico para essa atividade. Neste caso, há também a especificidade relacionada à localização física, uma vez que longas distâncias também inviabilizariam a transação.

A freqüência pré-determinada de ocorrência da transação está sujeita a modificações da realidade do mercado, a incertezas de eventos imprevisíveis que afetem o resultado das transações e ao oportunismo, que eventualmente aparece nesse tipo de relação.

Uma linha de pesquisa das ciências econômicas, conhecida como Nova Economia Institucional, parte do princípio que existem custo dissociados da produção em si, como custos de coletar informações e criar salvaguardas para se precaver do prejuízo provocado pelo comportamento "oportunista" da outra parte.

Os agentes, portanto, precisam de mecanismos que reduzam ao máximo os riscos das transações não ocorrerem, assegurando-lhes retorno sobre o investimento. Esses mecanismos são definidos de acordo com as formas de governança das relações de transação.

Existem diferentes formas de governança e a definição da mais apropriada para cada tipo de transação depende da especificidade dos ativos e da incerteza da atividade, como esquematizado no quadro abaixo:


Fonte: Brickley, Smith & Zimmerman (1987), citado por Zylbersztajn, 2000

Segundo o quadro acima, transações caracterizadas por ativos de baixa especificidade, que não sofrerão perdas no caso de ruptura de contratos, pois podem se ligar a outros agentes de mercado, são mais eficientemente regidas pelo sistema de preços e se caracterizam por produtos homogêneos, com muitos produtores e muitos compradores. É o tipo de relação que predomina na cadeia da carne bovina.

Nesse tipo de transação (mercado), não há grande valorização da qualidade do produto e deve haver maior preocupação com o oportunismo, uma vez que agentes podem deixar de cumprir contratos por causa de opções momentaneamente melhores.

Já no sistema de contratos, também conhecido como integração horizontal, há um maior comprometimento entre os agentes, determinado por uma freqüência constante de transações e por uma maior preocupação com a qualidade técnica do processo. Nesse caso, os agentes se preocupam com a formação de uma reputação, o que se torna uma barreira ética ao oportunismo. Esse é o tipo predominante de relação na cadeia do frango e suínos, pelo sistema de integração de produtores.

A integração vertical, sistema no qual uma única empresa realiza mais de um processo do sistema produtivo, é uma opção cada vez menos utilizada, sendo restrita a casos muito específicos, como o caso da citricultura brasileira, em que algumas empresas têm investido cada vez mais na produção de frutas próprias, suprindo parte relevante de suas necessidades industriais. No entanto,a tendência é cada vez mais a especialização em alguma etapa do processo produtivo e a integração horizontal com outros agentes econômicos, especializados em outras fases.

Um estudo de caso desenvolvido no Distrito Federal pelo professor Josemar Xavier de Medeiros procurou identificar os principais problemas dos produtores de carne ovina e a quem pertencia a governabilidade de cada problema. Os resultados foram apresentados na V Semana da Caprino e Ovinocultura Brasileira, em Campo Grande, na semana passada.

Segundo o professor, o maior desafio dos produtores, frigoríficos e varejistas é encontrar o melhor arranjo organizacional para conseguir atingir a coordenação técnica e atender os parâmetros exigidos pelo consumidor. Apenas assim a atividade alcançaria os padrões de concorrência estabelecido pelas outras carnes.

Após um diagnóstico da atual situação da atividade na região, o estudo propôs quatro arranjos organizacionais entre produtores e indústria, de modo a analisar qual deles resolveria a maior parte dos problemas diagnosticados.

No arranjo A, a empresa frigorífica é responsável pela aquisição de insumos, assistência técnica, pelo abate, corte e distribuição da carne. O produtor, por sua vez, é responsável pela produção e transporte dos animais.

Esse arranjo seria o mais parecido com o que acontece na cadeia produtiva de aves, na qual a indústria participa até da gestão tecnológica da produção dos animais, realizando auditorias na fazenda para conferir cada processo.

No arranjo B, uma associação de produtores é montada para fazer o mesmo papel do frigorífico do arranjo A. Um conselho regulador da associação é o responsável por coordenar todo o processo de compra coletiva de insumos, abate (contratação terceirizada da planta frigorífica), corte e distribuição. Esse sistema se aproxima de uma integração vertical, hierárquica, no qual uma mesma "empresa", no caso os produtores, ficam responsáveis por todos as etapas.

No arranjo C, a associação de produtores assume a compra centralizada de insumos e a negociação dos contratos com frigoríficos e distribuidoras. Nesse caso, a associação apenas coordena os contratos. Outras indústrias fazem o abate, corte e distribuição. Caracteriza-se então, uma forma híbrida de organização, uma vez que associa integração vertical com horizontal.

Por fim, o arranjo D se caracteriza pela atuação de uma cooperativa de produção e organização fazendo o papel de empresa integradora, responsável pela compra conjunta de insumos, terceirização do abate, corte e distribuição.

A avaliação geral dos prós e contras de cada arranjo, de acordo com os problemas apresentados pelos produtores, indicou os arranjos A e D como mais adequados para a realidade da atividade na região.

O professor Josemar levantou como importante aspecto o fato do arranjo A ter a vantagem da empresa frigorífica em questão já ter canais de comercialização formados e já conhecerem as preferências do consumidor.

Além disso, salientou que os arranjos B, C e D, para funcionarem corretamente, dependem de pessoas dispostas a se dedicar à gestão dos empreendimentos, o que nem sempre é possível.

Os produtores que participaram do estudo de caso levantaram ainda uma quinta opção de arranjo organizacional, na qual a indústria frigorífica atua como proposto no modelo A, mas os produtores passam a ter cotas desta empresa.

O estudo de caso do Distrito Federal é apenas um exemplo de formas organizacionais que podem nortear o processo. Existem inúmeras outras e cada realidade, com certeza, tem sua forma mais adequada.

A integração contratual é um bom começo em qualquer situação, uma vez que o setor ainda não possui grande número de produtores nem de compradores e suas reputações estão se formando, de modo que todos têm (ou deveriam ter) intenções de cumprir os acordos.

A partir daí cada caso, cada região, cada grupo de produtores, cada realidade estabelece as particularidades da relação, criando inúmeras formas organizacionais diferentes e que funcionam.

O mesmo princípio pode ser aplicado para os outros produtos de origem ovina e caprina, como leite, pele e lã. Cada setor deve focar as preferências do seu consumidor e organizar sua cadeia de modo que essas preferências determinem como cada elo deve trabalhar.

Solucionar esse impasse organizacional não resolverá todos os entraves que a ovinocaprinocultura precisa enfrentar, mas com certeza é um passo na direção do caminho correto.

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Comentários

Leendert Ari Boer

Carambeí - Paraná - Produção de ovinos
postado em 26/10/2006

Muita boas estas colocações, é exatamente aí o problema hoje, e não é dificil de resolver. Todos devem ganhar no processo, se isso for respeitado, qualquer um dos sistemas da certo, se bem que o sistema D é o mais interessante para o produtor. Parabéns por ter colocado isto no papel.

Paulo José Theophilo Gertner

Lauro de Freitas - Bahia - Médico Veterinário
postado em 26/10/2006

Está ai um tema porreta!
Sem dúvida é ai que podemos iniciar uma grande discussão, escutando o que cada elo dessa cadeia tem a dizer e o que cada um pode fazer. Caso contrário ficaremos patinando no mesmo lugar."Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".

Ou se integra e se organiza como o grupo D, ou sempre perderemos na mão dos oportunistas.

Muito bom.Como sempre vocë esta de parabéns.
Inté...

Clóvis José Cardoso de Ávila

Pelotas - Rio Grande do Sul - Produção de ovinos
postado em 27/10/2006

O esquema organizacional, representado pelo arranjo D já está atuando no Rio Grande do Sul, apesar de não ser uma cooperativa, trabalha como uma. O Conselho Regulador do Cordeiro Herval Premium, tem conseguido organizar os elos da cadeia de forma harmônica onde todos estão sendo beneficiados (produtores, transportadores, frigoríficos, distribuidoras e consumidores), porém pensando em melhorar ainda mais essa relação entre os elos está sendo criada uma cooperativa que irá trabalhar junto ao Conselho para viabilizar cada vez mais as necessidades dos integrantes da cadeia.

Raimundo Danés

Campinas - São Paulo - Produção de gado de corte
postado em 30/10/2006

Marina, muito interessante e atual abordagem sobre as alternativas possíveis de organização da cadeia produtiva para viabilizar o crescimento da ovinocaprinocultura.

A sua abordagem serve não apenas para esta cadeia, mas para varias situações vividas pelos produtores rurais hoje em dia. A falta de organização, liderança e uma base econômica forte, principalmente na ponta de produtor rural, fazem com que a analise de risco e de incerteza traga desconfiança entre os agentes desta cadeia.

Esta situação foi vivida nos anos 70 e 80 pelos produtores em relação ao ProAlcool, que veio a falir, não pela inviabilidade de produzir e consumir álcool, mas em função de problemas técnicos nos automóveis, que apresentavam desagradáveis problemas de "pegar" nos dias de temperaturas baixas, que aliado à oscilação de preços do álcool, tornou a equação econômica do carro a álcool negativa. Hoje vemos esta cadeia viabilizada pelas exportações de álcool e mais recentemente com o advento dos carros bicombustiveis.

A "sinuca de bico" se dá hoje na cadeia do Biodiesel. Sem um entendimento claro do tamanho do mercado do biodiesel e seus subprodutos, os "players" envolvidos, tanto na ponta agrícola com na ponta industrial temem fazer investimentos em ativos específicos, pois alem do capital ser escasso, há a desconfiança da efetivação de cadeia produtiva, bem como ela ser desequilibrada a favor de uma das pontas.

Sem uma análise das variáveis de mercado como a escolha de uma forma de organização adequada, e uma liderança reconhecida, que desenhe um sistema organizacional equânime, o circulo vicioso não será quebrada, colocando em risco a participação do pequeno e médio empresário rural nesta oportunidade que ora se apresenta.

Parabéns mais uma vez pela sua abordagem apropriada, atual e abrangente para o desenvolvimento da cadeia produtivas do agronegócio.

Daniel Legnaro Faria

Ribeirão Preto - São Paulo - Produção de ovinos
postado em 31/10/2006

Marina,
Muito bom e oportuno seus comentários e acredito muito em um desfecho para o fechamento da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura, porém acredito também que falta um pouco de atenção para a divulgação, o marketing dos produtos que esses animais nos oferecem.

Vejo que é muito importante definirmos um modelo de cadeia produtiva e vejo que a modalidade A é a mais recomendável, pois realmente o frigorífico já tem as veias de comercialização e sabe o costume de cada região compradora.

O que é importante salientar é que a demanda não cresce por não haver um costume cultural de outros estados em consumir a carne e derivados. A divulgação nos meios de comunicação é muito importante para informar que a carne é uma das melhores comercializadas, com pouca gordura e altamente saudável, e o leite não é utilizado somente para substituir o leite de vaca para as pessoas alérgicas.

O consumo no nordeste e no sul é muito grande e pouco se come da carne que vem dessas regiões no sudeste, noroeste e mesmo no norte. A única maneira de melhorar a demanda de carne e derivados é o marketing nos meios de comunicação como a tv, revistas e jornais, radio e internet. Assim, podemos garantir uma oferta e possivelmente aumentar investimentos no setor, já que há demanda para os produtos.

Pedro Alberto Carneiro Mendes

Fortaleza - Ceará - Consultoria/extensão rural
postado em 04/11/2006

Prezada Marina
Um abraço

Já conversamos sobre o assunto em outras ocasiões, entretanto, não posso deixar passar a oportunidade de poder transmitir como é complicada essa organização da cadeia produtiva da ovinocultura, analisando no momento a situação do Ceará.

Nosso rebanho ovino é de, aproximadamente, 1.606.024 cabeças, criadas por 57.358 produtores, o que traduz a média de 28 cabeças por produtores.

A Secretaria da Agricultura, há aproximadamente três anos, idealizou a construção de frigoríficos localizados estrategicamente com abate previsto de 30 animais dia,
na ocasião tido como o menor tamanho rentável e que deveriam funcionar de acordo com o modelo A.

Logo a idéia foi abandonada, pois além dos ativos fixos, verificou-se, que com os atuais níveis de produtividade a EMATERCE teria que organizar 1.125 produtores, até o momento sem qualquer nível de organização em torno de cada empreendimento. Missão???

No momento temos sete frigoríficos com SIE, que abatem ovinos (somente dois são especializados em abate de ovinos). Oabate diário dos sete frigoríficos juntos é de 43 ovinos/dia, o que não representa 3% do abate total segundo pesquisa do SEBRAE.

O relato tem o objetivo de informar como as coisas são diferentes em um país do tamanho do nosso.




Guilherme Augusto Vieira

Salvador - Bahia - Pesquisa/ensino
postado em 06/11/2006

Li com bastante interesse o seu artigo e notei que o assunto alianças mercadológicas e integração vertical e horizontal ainda dominam o cenário produtivo do complexo cárneo brasileiro.

Há muito tempo, a EMBRAPA Gado de Corte vem tentando viabilizar estudos sobre integração na carne bovina brasileira e esbarra nos vários aspectos apontados em seu artigo, principalmente no que concerne a organização dos produtores e interação mercadológica junto aos frigoríficos. Segundo os estudos, todos os atores devem estar engajados no processo senão não ocorre a tão sonhada aliança mercadológica.

O artigo autentica-se com a máxima do agronegócio brasileiro de que "o produtor brasileiro produz bem e não sabe vender sua produção".

Acompanho com bastante interesse a evolução da caprinovinocultura brasileira. Ás vezes brinco com meus alunos que nunca pensei em ver, como veterinário, o valor de um cordeiro ser mais alto que uma vaca. Entretanto, penso que a variável carne vai entrar em algum momento nesta composição de fatores e sempre pergunto: será esta evolução de mercado uma onda ou permanecerá por um longo tempo toda essa movimentação do segmento no tocante aos preços dos animais ?

Neste caso minha preocupação fundamenta-se com seu artigo. Por enquanto os criadores estão fazendo genética, mas falta fechar a cadeia com uma agroindústria forte e canais de distribuição e comercialização focados no produto e consumidor.

Penso que para essa cadeia evoluir deva ser criado um projeto de qualidade para a carne, desenvolver estudos sobre o perfil dos produtores de ovinos e caprinos além de um diagnóstico completo dos outros atores da cadeia. Até hoje não há conhecimento de qual o perfil do produtor e consumidor da carne ovina e caprina.

Há detalhes também que devem ser observados quanto à questão dos insumos: A partir do momento que houve evolução do segmento é que a indústria de insumos veterinários passou a investir em produtos, mas não se diferencia produtos para ovinos e caprinos (principalmente nas bulas dos medicamentos e indicações de sal mineral e rações) e todos sabemos que o metabolismo entre as espécies são diferentes.

Acho que só depois de um profundo diagnóstico desta poderá se definir sobre uma forma de organização na comercialização da carne ovina.

Roberis Ribeiro da Silva

Salvador - Bahia - Consultoria/extensão rural
postado em 14/11/2006

Parabéns Marina, pela forma didática como colocou no texto a luz da Economia dos Custos de Transação (ECT), pois a partir desta teoria poderemos avançar bastante nos estudos do Agronegócio Caprino e Ovino.

Ultimamente só tenho visto, no Brasil, o Prof. Josemar se preocupar em estudar este agronegócio à luz da ECT. Enfim, você vem também engrossar essa corrente.

Faz quase 9 anos que venho estudando as diversas formas de governaça para a cadeia produitva do ovino e caprino no Brasil, e chego a conclusão que o melhor arranjo organizacional é o hibrido até porque temos no país muita diversidade de ordem tecnologica, condições edafoclimáticas, informacional, dentre outras diferenças.

Contudo devemos ressaltar que a redução dos custos de transação entre os agentes econômicos da cadeia passa necessariamente pelos pressupostos comportamentais que são racionalidade limitada e oportunismos, situação bem representada na região do nordeste do Brasil, no elo de produção em que a falta de lojística e informação permeia a maioria dos produtores de caprinos e ovinos dessa região. Daí a falta de oferta regular, de qualidade, dentre outros fatores que implica numa boa produção caprina e ovina.

É preciso trabalhar melhor o homem para que possamos reduzir a assimetria de informação e por conseqüência o oportunismo que já existe nessa região do país. As demais regiões do Brasil, não acredito que teremos tanta dificuldade em acertar no mais adequado arranjo organizacional. Vale lembrar que, há dez anos, a integração horizontal foi testada no Rio Grande do Sul, por meio dos frigorifícos Pampeano e Frangosul (DOUX) e os resultados não foram o esperado. É preciso buscar a experiência deste dois frigorificos como forma de não incorrer nas mesmas armadilhas.

Sou muito cético quanto a questão de frigorificos e/ou abatedouros de caprinos e ovinos. Dizer que as empresas pública ou privada vão construir um estabelecimento desta natureza para ajudar ou incentivar o negócio caprino e ovino é história. Essa não é uma questão sócio-econômica e sim de defesa sanitária e segurança alimentar, ou seja, ter um estabelecimento com SIM, SIE ou SIF é, antes de mais nada, higiene pública.

Nos próximos meses o IBRACO estará publicando um estudo sobre ´O Perfil Agroindustrial do Agronegócio Brasileiro da Carne Caprina e Ovina" e vocês vão perceber algumas mudanças ou adequações ao longo da cadeias que estão consolidando pelo Brasil, no que tange ao mais adequado arranjo organizacional para a cadeia.

Vou parando por aqui pois estou me alongando e esta discussão não encerra por aqui.

Favor acessarem o site www.nuagro.adm.br para ler a publicação "Uma Análise do Sag da Carne Caprina e Ovina com base na Economia dos Custos de Transação", trabalho apresentado no congresso internacional EGNA em Ribeirão Preto, 2005.

Mais uma vez parabéns Marina, continue nesa direção.

Roberis Ribeiro da Silva
IBRACO
Presidente

Caio Tacito Gomes Alvares

Ilhéus - Bahia - Pesquisa/ensino
postado em 17/11/2006

Prezada Marina,

Trata-se de um texto que provoca muitas reflexões...

O assunto apresentado merece realmente este nível de discussão e, a partir dos modelos de arranjo apresentados, apesar de todos poderem ser adequados à realidade regional, o "D" me parece bem apropriado. Infelizmente, a dinâmica do agronegócio sofre constantemente em sua história com os "altos e baixos" dos ciclos predominantes, como é o caso da região cacaueira, bastante depreciada pela queda desta monocultura, e bastante arredia quanto aos propósitos do cooperativismo, como o colega Roberis bem conhece. E no campo ou na academia (UESC, Ilhéus) percebemos esse medo muito presente...

Entretanto, valorizei também as palavras do Sr. Daniel Legnari, onde se enfatizou nossa grande necessidade de gerar demanda inicialmente pelo produto carne e pele ovinos/caprinos, ou seja, os investimentos iniciais deveriam começar, de ambas as partes, produtores e indústria, no "aculturamento" do consumidor, para depois de uma avaliação de retorno, apostar nos ativos específicos.

Execelente esplanação! Parabéns

Germano Vidal

paty do alferes - Rio de Janeiro - Arquiteto e Empresário. Criador de ovinos.
postado em 19/01/2007

Prezada Marina,

Verifico com satisfação que as colocações feitas no editorial criaram vários indícios de muita necessidade de reflexão, bastando uma rápida avaliação dos comentários reportados.

Porém, gostaria de acrescentar uma visão até certo ponto "simplista" para o caso das pequenas produções de ovinos (ou até mesmo de caprinos).

Veja a seguinte situação:

1- uma comunidade rural decide iniciar a criação de ovinos para exploração comercial;

2- analisadas as formas de associação do grupo, manejo nas propriedades associadas, tipo de criação, raças escolhidas, abate, armazenamento, comercialização, marca, produtos e sub-produtos, distribuição, melhoria genética a ser pesquisada ao longo do tempo, participação em eventos, simpósios e congressos, enfim, a cadeia de rpodutiva como um todo.

3- Iniciado o processo, começam as dificuldades:

3.1- não há cultura de financiamento nos bancos oficiais com facilidades para pequenos produtores;

3.2- consulta ao órgão oficial do Estado, fiscalizador, normativo e aprovador de um matadouro; um nível de exigências tão absurdamente grande e incompatível com a necessidade de um pequeno grupo "que solicita a aprovação de um projeto para abate de 15 animais/dia"; depois de várias idas e vindas, consultas, alterações de projetos, etc, nada acontece na velocidade que se faz necessário;

3.3- custos excessivos de taxas, emolumentos e tributos para tudo que se solicita aos órgãos; ao invés de "estimular", cria-se a cultura do desestímulo;

3.4- a criação de associação é cheia de dificuldades, necessitando uma estrutura burocrática grande para as proporções do nosso pequeno negócio;

3.5- não há apoio oficial tanto das prefeituras como de organismos de incentivos a produção (tipo EMATER e outras), mais por falta de conhecimento técnico do que vontade de agir;

3.6- medicamentos e insumos a preços altos sem uma política de incentivo ao pequeno produtor;

3.7- enorme dificuldade em adquirir máquinas e equipamentos para financiamento oficial do tipo BNDES para pequenos produtores (tem que contratar uma "consultoria", as exigências de garantias são estratosféricas e nem se sabe se vai sair o "tal" financiamento...);

3.8- e muitos outros mais

Para vocês terem uma idéia real: É O NOSSO CASO!

Todos nós sabemos que os pequenos produtores com suas pequenas propriedades empregam mão-de-obra, geram riqueza, ajudam na distribuição de renda, proporcionam melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores rurais, etc., mas continuamos sem qualquer incentivo.

Então, diante de tantas dificuldades, continuaremos vendo e assistindo "os grandes" cada vez maiores e os pequenos sem a chance de entrar no mundo das criações pequenas, familiares, associadas, etc..

Fica para o futuro, maiores facilidades e nós continuaremos aguardando mais um pouco para fazer esta comunidade feliz.

Por enquanto, estamos somente nos PROJETOS.


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