AgriPoint: Quais são os pontos fortes e pontos fracos da utilização de irrigação em pastagens atualmente?
Luís César Drumond: A irrigação de pastagem é uma garantia de investimento do produtor. Quando ele intensifica uma área de pastagem, sem irrigação, o produtor fica a mercê do tempo para fazer adubação. Isso é problema no momento de fazer adubação nitrogenada principalmente, pois o nitrogênio pode perder por volatilização. Outro ponto importante é o que refere a aumento de produção de matéria seca total e qualidade da pastagem. Na área irrigada o produtor tem a garantia de produção de qualidade. Posso citar também a parte de conservação ambiental.
AgriPoint: O que você considera mais importante da utilização da irrigação de pastagens dentro de um sistema de produção animal?
Luís César Drumond: Os pecuaristas precisam entender que a aplicação de tais tecnologias podem realmente mudar a lucratividade da fazenda. Elas permitem potencialização da produção agropecuária e preservação ambiental. É necessário que ambas possam conviver harmoniosamente em um mesmo ambiente, onde de um lado tem-se aplicação de tecnologias voltadas para a intensificação, permitindo ao produtor dispor de área destinada à preservação e recuperação ambiental, sem que haja perda na produção, possibilitando estabelecer as áreas de reservas exigidas por lei e até mesmo, aumentá-las. Gostaria de deixar claro, que na minha visão, quando uma tecnologia está dominada, como é o caso de irrigação de pastagem, não faz diferença entre simples e complexo, área pequena e grande. Cabe ao técnico que orienta a fazenda, saber fazer os ajustes e treinamento de mão de obra, para que a tecnologia seja aplicada de forma correta e produza os efeitos esperados.
AgriPoint: Quais os principais erros cometidos nas fazendas que utilizam irrigação em pastagens?
Luís César Drumond: Os erros cometidos pelos produtores são vários e são as causas de insucesso, impedindo de alcançar tais resultados. Erros de manejo do pastejo, tais como sub e super pastejo têm sido observados com freqüência. Ainda, em algumas propriedades, o produtor acaba colocando animais de baixo mérito genético em áreas irrigadas e não obtendo resposta compatível com o processo de intensificação adotado. Além disso, é importante lembrar que a irrigação conduz a um aumento no consumo de nutrientes e aumenta a atividade da vida do solo que decompõe a matéria orgânica mais rapidamente. Isto significa que, se não houver uma reposição equilibrada de nutrientes via adubação, o sistema pode entrar em colapso.
Sobre este problema, temos visto muitos produtores irrigando a pastagem sem fazer adubação ou então aplicando apenas nitrogênio. Com a irrigação estar-se-á proporcionando maior desenvolvimento da planta, que passa a extrair mais nutrientes do solo e por isso ela deve estar bem nutrida. Outros erros têm sido cometidos, principalmente falta de controle da umidade do solo, excesso de irrigação levando a um desenvolvimento superficial do sistema radicular, perdas de nutrientes por lixiviação e redução da aeração do solo, imprescindível para o sistema radicular.
AgriPoint: Quais principais pontos que se deve ter conhecimento para realizar corretamente a irrigação a fim de obter rentabilidade na atividade?
Luís César Drumond: Primeira coisa é procurar um técnico que tem experiência em pastagem irrigada. Tenho visto alguns projetos sem o sucesso devido, porque foi pensado somente do ponto de vista de engenharia hidráulica. Mas, infelizmente, no caso de pastagem a hidráulica não é tudo. Vou dar um exemplo. Imagine um projeto para irrigar Tifton 85 na região do norte de Minas Gerais, onde temos temperaturas altas durante praticamente todo o ano. Se a área a ser irrigada for dividida em 30 piquetes, com certeza o produtor terá problemas de manejo, porque a resposta dessa forrageira irrigada e adubada é muito alta.
Quando as vacas chegarem no piquete No 25 em diante, provavelmente o capim já passou do ponto ideal de pastejo. Portanto, o técnico que está elaborando o projeto tem que ter esses conhecimentos. Outro ponto é o seguinte: tem empresas oferecendo a garantia de assistência hidráulica no projeto de malha. Eu pergunto: porque é necessário essa assistência? O que pode dar problema nesse tipo de projeto é um animal quebrar um tubo. Isso, um funcionário da fazenda pode reparar. A empresa que forneceu os tubos ou conexões para o projeto tem que oferecer no mercado as peças de reposição e fornece. Projeto de aspersão em malha somente funciona mal, se houver algum erro no projeto, ou no manejo ou por ineficiência do próprio produtor.
AgriPoint: Quais principais sistemas de irrigação utilizados e para que são indicados?
Luís César Drumond: Os sistemas mais utilizados para irrigação de pastagem é o Pivô Central e Aspersão em Malha. Para irrigação de pastagem visando produção de carne, temos feito vários projetos com Pivô Central. O custo por hectare varia principalmente com o tamanho da área a ser irrigada, com a topografia, com a distância em relação a captação e a energia elétrica. Considerando área entre 60 e 100 hectares, o custo por hectare tem ficado entre R$ 4.500,00 a R$ 6.000,00. É um equipamento de manejo fácil e que possibilita aplicação de adubos químicos e de água residuária via irrigação (fertirrigação).
AgriPoint: Como aliar a irrigação com aplicação de águas residuárias? Qual objetivo dessa técnica?
Luís César Drumond: A aplicação de água residuária em áreas de pastagem irrigada é uma forma eficiente de disposição e tratamento. Seu emprego de forma correta provoca efeitos positivos na estrutura física e química no solo, também repercutindo num incremento da produtividade. Dentre esses efeitos, pode-se apontar uma maior capacidade de retenção de água; intensificação das atividades microbianas e enzimáticas do solo e um aumento da capacidade de troca de cátions, o que significa uma maior disponibilidade de nutrientes com um aumento da capacidade de sua absorção pelas plantas. Paralelamente, existe uma redução na aplicação de adubos químicos.
Tenho realizado várias pesquisas com aplicação de água residuária como fertilizantes e os resultados evidenciam que podem e devem ser utilizados como insumo útil e econômico na atividade agropecuária. O que é resíduo de um sistema pode se constituir em insumo para outro sistema produtivo. Mas, deve haver monitoramento constante da solução do solo, para evitar contaminação do lençol freático e do próprio solo.
AgriPoint: O que o produtor, ou técnico, poderá aprender de mais importante neste curso?
Luís César Drumond: Produtores e técnicos aprenderão as tecnicas de irrigação e manejo de irrigação de pastagem. O projeto de irrigação de pastagem é bem diferente de projeto de irrigação de grãos e outras culturas. Tem que aliar o projeto ao sistema e ao manejo do rebanho e da pastagem. Tem que ser de forma sustentável, pois temos a responsabilidade de proteger o meio ambiente. Temos que lembrar que em se tratando da pecuária nacional, normalmente as pastagens são cultivadas em solos exauridos e/ou de baixa fertilidade natural, como os solos de cerrado, impondo baixa lotação animal por hectare ao longo do ano. Nessas condições, os produtores necessitam de uma área muito maior para suporte de determinado número de animais, quando comparada a uma pastagem irrigada e adubada, o que tem promovido desmatamento de áreas que deveriam ser de preservação. Um dos principais focos de desmatamento no Brasil para aumento das áreas de pastagem é a região do cerrado.
É importante que produtores e técnicos conheçam tecnologias que permitam altas produtividades e que sejam aplicáveis a pequenos, médios e grandes produtores, pois o cerrado é um dos 'hotspots' para a conservação da biodiversidade mundial. Possui a mais rica flora dentre as savanas do mundo, contendo mais de sete mil espécies, com alto nível de endemismo. Diante de tamanha riqueza, é necessário que se estabeleçam técnicas que possam permitir produção agropecuária e preservação ambiental. Faz-se necessário que ambas possam conviver harmoniosamente em um mesmo ambiente, onde de um lado tem-se aplicação de tecnologias voltadas para a intensificação, permitindo ao produtor dispor de área destinada à preservação e recuperação ambiental dentro da mesma propriedade, sem que haja perda na produção.
José Afonso Laurentino Júnior
Itabuna - Bahia - Estudante
postado em 07/12/2010
COM CERTEZA UMA REFERÊNCIA NO ASSUNTO NO PAÍS. ELE E O CHINELLATO FAZEM UM EXCELENTE TRABALHO PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA E PECUÁRIO. PARABÉNS AOS ORGANIZADORES. ENTREVISTAS COMO ESTA PODEM VALER MAIS DO QUE UMA IMAGEM. OBRIGADO.