A nova safra também permitirá ao país consolidar a recuperação de sua agricultura, iniciada no ciclo 2009/10, após dois anos difíceis. Em 2007/08, diante da frustrada tentativa oficial de elevar o valor das retenções, produtores chegaram a fazer bloqueios para evitar o escoamento dos grãos de quem não tinha aderido ao boicote. A safra seguinte foi afetada pela mais severa estiagem em 75 anos. Por enquanto, as estimativas da Sociedade Rural Argentina (SRA) aponta 98 milhões de toneladas de cereais e oleaginosas. "Quando estamos nesse patamar, chegar ou não às 100 milhões de toneladas depende das condições climáticas, é algo que está na margem de erro", afirmou ao Valor o diretor do Instituto de Estudos Econômicos da entidade, Ernesto Ambrosetti.
O certo é que a cotação internacional da soja garante cofres cheios para o governo. O projeto de orçamento para 2011 prevê arrecadação de 52 bilhões de pesos (US$ 13 bilhões) com as retenções de todos os cultivos. Para a SRA não há nada para comemorar. Sabendo que é nula a possibilidade de extinguir em 2011 com as retenções, principal reivindicação do campo, a entidade reforça o lobby a favor de medidas que possam atenuar a situação. "Estamos pedindo a eliminação de todas as travas às exportações", disse Ambrosetti. Ele ressaltou ainda que iniciativas recentes para a desoneração de pequenos produtores não prosperaram. "Nos últimos três anos, anunciaram-se diversos programas de reembolsos das retenções que nunca saíram do papel", acrescentou.
Apesar dos entraves, milho e trigo são os cultivos de maior avanço em 2010/11, com aumentos de 16% e 66% da produção, respectivamente. A soja mantém os 19 milhões de hectares de área plantada da safra passada, mas ninguém espera que se repita a colheita recorde de 54,5 milhões de toneladas, obtida graças a condições climáticas favoráveis. Desta vez, não será fácil chegar as 52 milhões de toneladas, a atual previsão oficial. Segundo a Bolsa de Comércio de Rosário, a baixa intensidade das chuvas e a alternância entre temperaturas muito altas e muito baixas para a primavera têm atrasado o plantio. E a entidade já advertiu que aumentam a presença de pragas e os problemas emergenciais no cultivo.
Para a Sociedade Rural, as mudanças na composição da nova safra são circunstanciais e se justificam pela recuperação nos cultivos de milho e trigo, mas estão longe de reverter o fenômeno da "sojização" do país. Nas últimas cinco safras, somente em uma a soja representou menos de 50% da produção agrícola total. "Os produtores seguem confiando na soja como o único cultivo que não sofre interferências do governo", disse Ambrosetti. Apesar das retenções, não há controles de preços nem barreiras às exportações.
A matéria é de Daniel Rittner, publicada no jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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