"Será necessário demonstrar quanto esses constrangedores equívocos primários cometidos pelo IBGE podem prejudicar o Brasil e a sua principal atividade, que é o agronegócio", disse a senadora Kátia Abreu. A audiência pública deverá ocorrer na próxima semana. Conforme solicitado pela presidente da CNA, deverão participar da audiência pública Rodolfo Hoffmann, professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Ignez Vidigal Lopes, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em Estatística; Eduardo Pereira Nunes, presidente do IBGE; e um representante da CNA. Hoffmann, destacou a senadora, foi o primeiro estudioso a apontar os erros no Censo Agropecuário de 2006 do IBGE. A proposta é que a audiência seja realizada em conjunto com a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), do Senado.
A presidente da CNA alertou que há erros 'crassos' e 'gritantes' no Censo Agropecuário 2006. Destacou que o IBGE realiza regularmente duas linhas de estudo sobre a produção rural brasileira: a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), realizada anualmente, e Censo Agropecuário, preparado a cada dez anos, e que essas duas pesquisas, preparadas pelo mesmo órgão, apresentam diferenças bastante fortes nos resultados. Por isso a necessidade da audiência pública para esclarecer os erros do Censo Agropecuário 2006, alertou a senadora.
"Se compararmos dados da PPM e do Censo, que são preparados pelo mesmo órgão, ambos com dados do mesmo ano, ou seja, de 2006, sumiram com 5,2 bilhões de litros de leite, 21% a menos", destacou Kátia Abreu. Essa diferença representa a divergência entre a PPM de 2006, que apontou para produção de 25,3 bilhões de litros de leite; e o Censo 2006, que indicou oferta de 20,1 bilhões de litros de leite. Outra incoerência é o rebanho bovino de 205,9 milhões de cabeças apontado pela PPM e de 171,6 milhões de cabeças indicado pelo Censo, uma diferença de 34,3 milhões de bovinos, em estudos da mesma instituição de pesquisa, criticou a senadora.
O Censo Agropecuário 2006 foi originalmente divulgado em 30 de setembro deste ano, apontando erroneamente que o Brasil teria enfrentado um processo de concentração das propriedades rurais. Mais de um mês depois, em cinco de novembro, o IBGE admitiu que errou no cálculo do índice de Gini e divulgou uma curta nota à imprensa advertindo que havia ocorrido o contrário, ou seja, houve um processo de desconcentração de propriedades nos últimos dez anos. "Houve um equívoco grande, mas não sabemos se foi um equivoco de verdade ou se foi mal intencionado, pois o IBGE ganhou as manchetes dos jornais por mais de dez dias, denunciando que havia um aumento na concentração de terras no Brasil. E o que houve foi exatamente o contrário", destacou Kátia Abreu.
A presidente da CNA alertou que o Censo Agropecuário serve como norteador para programas de investimento, políticas públicas e relações de mercado. Se o Censo está errado, a percepção global sobre a agropecuária brasileira fica equivocada, advertiu. "O dia em que um país duvidar da ciência, da sua entidade de pesquisa, estaremos fadados ao fracasso e ao insucesso. A pesquisa, no mundo inteiro, apesar de ser feita por órgãos governamentais, é totalmente independente, sendo inadmissível o aparelhamento dessas instituições sob qualquer hipótese", concluiu Kátia Abreu.
As informações são da CNA, adaptadas e resumidas pela Equipe AgriPoint.
Paulo Varela Sendin
Londrina - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 18/11/2009
Três fatos sobressaem da matéria divulgada pelo Agripoint.
Em primeiro lugar os enganos cometidos na divulgação apressada de informações, embora já tenham decorridos decorridos quase 3 anos desde a coleta dos dados. No atual mundo da informática, sendo o censo realizado com equipamentos modernos como palm tops, seria de se esperar um processamento, análise e divulgação muito mais rápidas e confiáveis.
Em segundo lugar, a inconsistência entre os dados do Censo e os das PPM deveriam ser esperados: as metodologias são diferentes e as informações das PPMs são pouco mais do "advinhações" dos informantes. Mesmo que os informantes sejam competentes, honestos e conhecedores dos seus respectivos municípios, as possibilidades de enganos são muitas. Seria interessante a realização de um estudo acadêmico comparando os dados coletados pelo Censo com as informações dos PPM em cada município do Brasil, de forma a se ter uma idéia do nível de inconsitência e da distribuição dessa inconsistência entre as diversas regiões do país.
Por último, a observação mais grave: o possível "aparelhamento" das instituições de pesquisa científica. Se não for possível confiar nas instituições que, por definição, devem buscar a verdade, torna-se difícil a análise isenta dos fatos e a construção de pollíticas públicas coerentes.
Paulo Varela Sendin, EngºAgrº
Londrina PR