"O Brasil sempre dependeu de capital externo. Restringir a compra de terras agora implica reduzir a velocidade do crescimento do agronegócio nos próximos anos, já que a restrição imposta pela AGU traz dificuldades de captação de recursos", diz André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult. "A consequência de o Brasil ter esse crescimento mais lento é o aumento dos preços internacionais. Além disso, tira a oportunidade de desenvolvimento social de locais mais pobres que não têm outra alternativa." Na avaliação de Pessôa, a restrição brasileira passa um "recado muito ruim" para o mundo, já que em rodadas internacionais de negócios o País defende abertura dos mercados.
A participação do capital internacional, destaca o estudo, não se restringe apenas à aquisição direta das terras. Se estende ao financiamento da produção, seja por meio dos bancos estrangeiros que concedem créditos; das tradings que antecipam recursos para pagamento após a colheita; e das multinacionais fabricantes de fertilizantes e defensivos, que realizam operações de trocas de insumos por produtos.
Segundo Pessôa, o Brasil precisaria nos próximos 10 anos de R$ 93,5 bilhões em investimentos para atender a demanda mundial por grãos, considerando uma situação de estoques no mesmo nível de hoje, para evitar pressão adicional sobre os preços. Metade desse investimento seria de capital estrangeiro, diz o analista. Desse total, os setores de grãos e algodão precisariam de R$ 31,2 bilhões (R$ 13,6 bi para compra de terras e R$ 17,6 bi para formação de lavouras e infraestrutura). Já a área de cana tem uma demanda de R$ 43,8 bilhões (R$ 24,5 para aquisição de terras e R$ 19,2 bilhões para formação de lavouras e infraestrutura) e a de florestas outros R$ 18,5 bilhões (R$ 7,9 bilhões para terras e R$ 10,6 bilhões para infraestrutura).
Isso tudo para uma expansão na próxima década de 5,5 milhões de hectares em grãos e algodão, 3,1 milhões de hectares em cana e 2,6 milhões de hectares em reflorestamentos. A título de comparação, o analista lembra que na década de 80 o Brasil tinha 34 milhões de hectares plantados com grãos, área que cresceu pouco menos de 5 milhões de hectares em 30 anos, atingindo 38,9 milhões de hectares em 2010. "Para mim essa evolução nos últimos 30 anos é uma demonstração de que o capital nacional não resolveu o problema. Portanto, o Brasil não pode prescindir de receber esse capital externo", completou Pessôa.
Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), disse que o setor sucroalcooleiro foi bastante afetado pela crise econômica de 2008, e que parte da consolidação após esse momento se deu graças a capital estrangeiro, como a criação da joint venture entre Cosan e a Shell, a aquisição da Equipav e da Vale do Ivaí pela indiana Shree Renuka e a compra da Santa Elisa Vale pela Louis Dreyfus. "Isso foi muito saudável para o processo de reestruturação do setor. Mas agora esse parecer pode afetar a área de arrendamento de terras, que é tão importante para o setor de cana", disse o executivo.
Em relação à soberania brasileira, um dos pontos levantados pelo governo, Pessôa diz não ver nenhuma ameaça proveniente dos investimentos estrangeiros em terras no Brasil. "A terra, se bem explorada, é um ativo sustentável e renovável, e é imóvel. Não dá para levar embora. Então vai gerar desenvolvimento aqui. E a própria produção será brasileira, regida pelas leis daqui", completou Pessôa.
"Como consultores, nossa visão é que em nenhum momento o investimento do capital externo no ativo terra seria um problema nos aspectos trabalhistas, judiciais e da própria propriedade da terra. Eles serão obrigados a seguir a legislação. Só haveria problema se existisse uma regra para brasileiro e outra para estrangeiro."
A Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio colocará o estudo para avaliação das entidades afiliadas. Nos próximos encontros, definirá os passos seguintes, inclusive o que será levado para o governo.
As informações são da Agência Estado, adaptadas pela Equipe AgriPoint.
Jose Eduardo Ferreira da Silva
Belo Horizonte - Minas Gerais - Analista de Desenvolvimento
postado em 19/04/2011
Já comentei aqui antes a respeito desse assunto. E apanhei muito, e sei que vou continuar apanhando daqueles nacionalistas anacrônicos de plantão. Só que agora existem números para provar que a proibição na aquisição de terras por estrangeiros terá uma grave conseqüência para o agronegócio nacional, com reflexos no crédito para todos os agricultores (terras já não servirão de garantia para tradings multinacionas, grandes indústrias de insumos multinacionais, bancos estrangeiros, etc), nos investimentos diretos por estrangeiros, no nível de emprego, na interiorização de investimentos, reduzindo o custo social da migração campo-cidade, etc. Tá na hora de os governantes do PT e seus comparsas, que se nutrem na mais tosca ideologia de cunho nacionalista, pararem de se apoiar sobre as 4 patas para comer!!!!