A cem dias da Conferência do Clima de Copenhague, um grupo de 22 das maiores empresas nacionais e entidades privadas assinaram um documento que é um marco na posição do setor produtivo rumo à sustentabilidade. O texto, espécie de "carta ambiental", é um sinal de que a agenda comercial flerta cada vez mais com os tópicos da negociação internacional sobre a mudança do clima.
Na carta, lançada durante o seminário "Brasil e as Mudanças Climáticas", promovido pelo Valor e pela "GloboNews", os líderes empresariais assumem cinco compromissos básicos, da publicação anual de inventários de emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao rastreamento da cadeia de fornecedores. Também elencam nove propostas para influenciar as posições brasileiras nas discussões do acordo climático de Copenhague, cobram do governo liderança nas negociações e defendem a simplificação e agilidade nos processos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que deveriam facilitar o ingresso de tecnologias limpas nos países em desenvolvimento.
Os empresários também apóiam a criação de um sistema de incentivo para quem preserva a floresta, nunca desmatou ou reduziu o desmatamento, o chamado Redd. Neste ponto, o embaixador Figueiredo alertou que se há recursos dos governos para salvar economias em crise, é preciso achar receitas também para ações ligadas à mudança do clima.
O movimento ainda não tem adesão de um número significativo de empresas. Entidades de classe tradicionais não estavam representadas. O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, citou a resistência do agronegócio no Congresso às iniciativas para conter o desmatamento.
A maioria dos signatários tem perfil exportador e teme perder mercado se não embarcar na temática verde. "A empresa que não tem preocupação ambiental vai sofrer mais lá na frente, vai pagar essa conta", afirmou Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale e um dos líderes do movimento.
Para Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, os Estados da região amazônica recebem investimentos públicos muito baixos. "É preciso criar um ambiente de negócios favorável para ampliar a proteção da floresta e adaptar o agronegócio às novas regras ambientais", avaliou. Veríssimo acredita que o Brasil não vai atingir qualquer meta de baixa emissão de carbono se não zerar o desmatamento na Amazônia. "Mas é preciso que se registre que os empresários estão assumindo uma posição mais de vanguarda e o governo continua conservador."
Na carta, os empresários prometem perseguir a redução contínua do "balanço líquido de emissões de CO2". Na prática, falam em corte sem apresentar números, em rota similar à do governo brasileiro, que prefere falar em "compromissos". Agnelli pediu que não se perca tempo com semântica. O ministro Carlos Minc garantiu que o Brasil chegará a Copenhague com metas definidas.
A carta foi entregue a Minc, ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Machado Rezende, e ao chefe dos negociadores brasileiros. Os signatários do acordo são: Aflopar, Andrade Gutierrez, Aracruz, Camargo Corrêa, CBMM, Coamo, CPFL, Estre, Grupo Orsa, Pão de Açúcar, Light, Natura, Nutrimental, Odebrecht, OAS, Polimix, Samarco, Suzano, Unica, Vale, Votorantim, VCP. O compromisso conta ainda com o apoio do Instituto Ethos, Fórum Amazônia Sustentável, SindiExtra, Fiep
Na saída, o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alan Charlton, celebrava a iniciativa. "É o caminho para a economia de baixo carbono. O futuro já chegou."
As informações são do Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.
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