Apesar de os gastos com custeio terem caído de 10% a 20% neste ciclo, o cenário é menos favorável ao produtor do que em 2009, quando a quebra de 31% na safra argentina e a forte demanda chinesa garantiram altos preços mesmo durante a colheita -cerca de US$ 10 por bushel, que equivale a 27,2 kg de soja. A cotação do dólar, que caiu para cerca de R$ 1,80, também prejudica o sojicultor.
"Quem não travou [o preço] nada está preocupado por causa da cotação [que tende a cair] e porque a perspectiva é ruim para a safrinha do milho, que mantém preços baixos e estoques altos desde o ano passado", diz o produtor Eduardo Pagnoncelli Peixoto.
Para Lucilio Alves, pesquisador do Cepea, a demanda da China será inferior à oferta neste ano e a supersafra deve recompor os estoques dos principais países exportadores. "Não tem como segurar o preço nessa situação. A cotação deve cair até março, época em que os produtores precisam vender para pagar dívidas."
Para o economista e professor da FGV Alexandre Mendonça de Barros, o preço da soja deve cair um pouco se as grandes safras no Brasil e na Argentina se confirmarem, mas há um "viés de estabilidade" em torno de US$ 9,7.
Outro fator que pode jogar contra o produtor é que o represamento de milho nos armazéns gerais do Centro-Oeste, provocado pela superprodução de 2009 e pelos preços baixos do cereal, impedirá o armazenamento da soja que começa a ser colhida na região, segundo produtores e proprietários de armazéns.
Sem alternativas para guardar o grão, a maioria dos sojicultores terá de entregar o produto logo após a colheita para as "tradings", empresas que compram e exportam. Depois de receber, essas empresas esmagam ou mandam a soja para outro país, mantendo a capacidade de recebimento.
Com poder de negociação reduzido, o produtor terá duas alternativas: vender imediatamente ou entregar o grão para as empresas e ficar com uma carta de crédito em mãos, que lhe permite faturar no futuro.
Emílio Garcia, que planta soja em Chapadão do Sul e em Jataí (GO), diz que, em 2009, guardou parte da produção até o fim de julho, na expectativa de vender melhor na entressafra, quando a soja tende a se valorizar. Neste ano, não conseguiu espaço em nenhum dos 27 armazéns de Chapadão do Céu. "As empresas vão se prevalecer da situação porque não temos onde guardar. Vão dizer: "O preço é esse aí, entrega o grão e pronto".
As informações são da Folha de S. Paulo, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.
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