Convidado para continuar no posto no próximo governo, o ministro da Agricultura Wagner Rossi falou de seus planos e transmitiu um recado político: o setor precisa de segurança para produzir bem e para ser competitivo. É um lembrete oportuno, a duas semanas da posse da presidente eleita, Dilma Rousseff.
Insatisfeito com o ritmo de trabalho no Ministério da Agricultura, Wagner Rossi prometeu à presidente eleita, Dilma Rousseff, que terá pulso mais firme em sua gestão, com o objetivo de modernizar o serviço público para poder acompanhar os avanços verificados nos últimos anos pelo setor privado.
O agronegócio, um dos segmentos mais eficientes da economia, continua na mira do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do PT, do MST e de outras organizações comprometidas com as bandeiras do atraso. Ele não usou estas palavras, mas foi veemente na defesa de quem realmente produz.
Não é justificável, segundo o ministro, a revisão dos índices de produtividade usados para a desapropriação de terras. Uma portaria já passou pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e está engavetada no Ministério da Agricultura, porque Rossi se recusou a assiná-la. Seu partido, o PMDB, aprovou em 2009 uma moção contra o aumento dos índices, mas o PT insistiu. A questão é geralmente apresentada como um conflito entre os grandes proprietários, defendidos no Congresso pela bancada ruralista, e os chamados movimentos sociais. Essa forma de apresentar os fatos escamoteia o problema essencial.
O maior interesse em jogo não é o de grupos econômicos ou de organizações privadas, mas o interesse público. A maioria dos brasileiros vive em cidades e depende de uma produção eficiente para ter alimentos abundantes, bons e baratos, acessíveis a qualquer trabalhador. É esta a questão básica.
Um fato é inegável: o agronegócio nacional tem proporcionado esses alimentos e também um grande volume de matérias-primas para processamento industrial. Além disso, é competitivo nos mercados globais e suas exportações são a principal fonte do superávit comercial - uma fator importantíssimo para a estabilidade e a segurança econômicas do País.
Pode ter havido razão econômica para a reforma agrária há algumas décadas. Mas a agropecuária brasileira transformou-se amplamente nos últimos 40 anos. Modernizou-se tecnologicamente e seus padrões de gestão foram atualizados. O setor produz muito mais que o necessário para abastecer o mercado interno e para atender à crescente demanda internacional.
Os governantes têm reconhecido essas mudanças e louvado o agronegócio por sua contribuição ao crescimento e à segurança da economia. Mas têm adotado uma política esquizofrênica, acentuada nos oito anos de administração petista. O governo tem uma área encarregada de promover a expansão do agronegócio - o Ministério da Agricultura - e outras empenhadas em fustigá-lo - com os Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente na liderança.
Ao insistir nas desapropriações, o governo faz uma perigosa confusão entre objetivos. Seu foco deveria ser a criação de condições de emprego para os grupos mais desfavorecidos e, de modo geral, menos preparados para trabalhar numa economia moderna. A agropecuária brasileira se modernizou. Os defensores da reforma agrária continuam no passado. A presidente eleita faria bem ao País se escolhesse o compromisso com a modernidade.
A reportagem é do jornal O Estado de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.
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